Título: Fluxo é positivo mesmo com cotação em alta
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2008, Finanças, p. C1

O fluxo de entrada de dólares no país continua positivo, apesar do agravamento recente da crise internacional, mostram dados divulgados ontem pelo Banco Central. O curioso é que sobrava moeda estrangeira no mercado mesmo em dias em que o câmbio sofria desvalorização. Ou seja, a disparada recente da taxa de câmbio não pode ser creditada unicamente a uma eventual falta de dólar no mercado à vista de moeda estrangeira.

Nos três primeiros dias úteis de outubro, quando a cotação do dólar pulou de R$ 1,9143 para R$ 2,0540, os ingressos de dólares no mercado de câmbio superaram as saídas em US$ 514 milhões. Na quinta da semana passada, em particular, o dólar se valorizou 4,51%, num dia em que os ingressos de dólares no país somaram US$ 173 milhões.

Em setembro, segundo dados divulgados ontem pelo BC, ocorreu algo semelhante. O mercado de câmbio registrou superávit de US$ 2,803 bilhões, enquanto o dólar se valorizava 17,5%.

Naturalmente, uma coisa não está desvinculada da outra. Quando o dólar sobe, a cotação se torna mais atrativa para exportadores e outros agentes privados, que vendem moeda estrangeira aos bancos. De qualquer forma, os números divulgados pelo BC mostram que, pelo menos até o dia 3 de outubro, a disparada do câmbio pouco tinha a ver com as condições de oferta e demanda de moeda no mercado à vista de câmbio.

Preponderavam outros fatores, como incertezas sobre o fluxo futuro de moeda estrangeira, em um ambiente em que a aversão global a riscos tende a diminuir as linhas de financiamento internacionais ao país, e a perspectiva de menor crescimento das principais economias do planeta, que tende a deprimir a receita do país com exportações.

Também pesaram na disparada do dólar as turbulências no mercado futuro, onde empresas não financeiras procuraram estancar perdas em opções com dólar.

Nos primeiros três dias de outubro, os exportadores venderam US$ 2,287 bilhões, o que significa uma média diária de US$ 762 milhões, acima da média de US$ 728 milhões observada em setembro. Ou seja: os exportadores continuam a vender dólares aos bancos, apesar da crise.

Mas a contratação de operações de Antecipação de Contrato de Câmbio (ACC) caiu um pouco. Somou US$ 400 milhões nos primeiros três dias de outubro, o que significa uma média de US$ 133 milhões, ante a média de US$ 238 milhões observada em setembro.

Uma explicação para a queda na contratação de ACCs é a redução das linhas de financiamento internacional para exportações. Outra evidência é a queda nas contratações de operações pagamento antecipado de exportações, outra linha de financiamento com recursos internacionais, que somaram US$ 360 milhões nos primeiros três dias de outubro. A média diária dessas operações caiu de US$ 181 milhões para US$ 120 milhões entre setembro e outubro.

O segmento financeiro registra déficit moderado nos três primeiros dias de outubro, com US$ 631 milhões, ante déficit de US$ 4,186 bilhões em setembro. Nele, são registrados os movimentos de capitais, como o ingresso e saídas de investimentos diretos e em Bolsas e as captações no exterior, além dos serviços e rendas, como a remessa de lucros e dividendos e os gastos de turistas brasileiros no exterior. (AR)