Título: Mercado de câmbio se retrai, trava e puxa a cotação do dólar
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2008, Finanças, p. C1

A volta dos leilões de venda de moeda estrangeira, após de uma ausência de mais de cinco anos, foi motivada por problemas de deficiência de liquidez, informam fontes oficiais que monitoram o mercado de câmbio. O mercado praticamente travou na manhã de ontem. Quase ninguém se aventurava a comprar ou a vender moeda. A cotação do dólar disparou com a realização de poucos negócios.

As intervenções realizada ontem, sustentam essas fontes, preservam os princípios fundamentais do mercado de câmbio - segundo os quais a cotação do dólar será definida exclusivamente pelo mercado, e não pelo Banco Central. Esse princípio, não significa, porém, que o BC deverá ficar completamente inerte.

Um dos princípios anunciados pelo BC para suas intervenções é justamente evitar que deficiências de liquidez levem a movimentos bruscos na taxa de câmbio. Nas últimas semanas, o BC já vinha observando problemas localizados que impediam o bom funcionamento do mercado de câmbio. Um deles foi a redução, pelo que tudo indica momentânea, das linhas de financiamentos ao país, especialmente ao comércio exterior. Isso levou o BC a retomar a venda de dólares aos bancos com compromisso de recompra, como forma de criar uma "ponte de liquidez".

O BC também identificou pressões nos mercados futuros de moeda estrangeira, dessa vez causado por operações de empresas não financeiras com dólar, casos da Aracruz e Sadia. Várias empresas buscavam reduzir suas exposições cambiais, provocando uma pressão desproporcional na cotação do dólar. O BC decidiu, então, oferecer "swaps" cambiais, em na prática a autoridade monetária injeta dólares no mercado futuro, foco dos problemas com empresas não financeiras.

Nos últimos dias, o BC passou a observar deficiências de liquidez também no mercado à vista de moeda estrangeira. Não interveio no primeiro momento porque queria checar, antes, se eram apenas problemas localizados e transitórios. As intervenções devem ser pontuais, diz o BC, para que sejam preservadas as reservas internacionais.

Ontem, retomou os leilões de câmbio - foram três, todos pela manhã - porque concluiu que a falta de liquidez havia tomado a proporção e a duração que exigia uma ação mais firme. No primeiro leilão, a taxa foi de R$ 2,4485; no segundo, de R$ 2,37; e, no terceiro, de R$ 2,3560. O mercado calcula o valor total das operações em US$ 1,55 bilhão.

Ao mesmo tempo em que age para corrigir distorções que tipicamente contaminam o mercado de câmbio durante as crises, o BC vê com algum realismo a valorização do dólar ante o real. As condições macroeconômicas mudaram com a crise internacional e, em tese, os fundamentos atuais significam um real menos forte. O valor exato, porém, será determinado pelo mercado.

Além do fluxo que ocorre no mercado à vista de dólar, que continua positivo, a taxa de câmbio é definida pela expectativa dos agentes econômicos sobre os fluxos futuros de dólares, lembra uma fonte da área econômica. Preços de "commodities" exportadas pelo Brasil caíram em função da perspectiva de redução do crescimento mundial. Esses eventos reduzem o valor das exportações e também o de ativos financeiros brasileiros, sobretudo ações de empresas que exportam commodities.