Título: Meirelles diz que problema é de liquidez e não solvência
Autor: Safatle, Claudia
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2008, Finanças, p. C3

Na exposição sobre a crise financeira internacional, ontem, durante reunião da coordenação política, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, enfatizou que as medidas recentes adotadas são destinadas a prover liquidez aos mercados. Não há qualquer problema de solvência no sistema bancário brasileiro, conforme assegurou Meirelles. O que há é um empoçamento da liquidez e o conjunto de medidas que o BC vem tomando há cerca de quinze dias é para restabelecer as condições de funcionamento dos mercados. "Ninguém vai defender cotação de nada. Não defendemos na baixa e agora não vamos defender na alta", resumiu um ministro que estava presente à reunião de coordenação política, ao garantir que os leilões de moeda estrangeira do BC, ontem, não tiveram como objetivo principal nem subalterno defender uma determinada taxa de câmbio. "Vamos usar as reservas cambiais com parcimônia."

A reunião ocorreu no Palácio do Planalto e contou com a presença do presidente Lula.

Meirelles reforçou a avaliação de que, dada as circunstâncias da crise, que é gravíssima, o país continua com bons fundamentos e boa situação. As contas externas estão em ordem, as contas fiscais também, a inflação está sob controle, o comércio externo do Brasil é diversificado e o mercado interno é o motor da economia, hoje, listou, conforme relato de outros ministros presentes.

O agravamento da crise nos últimos dois dias decorreu da tomada de consciência de que os bancos europeus também estão com problemas de solvência, e não só os americanos como se pensava até então. No Brasil, "não há crise de solvência bancária mas tão somente problemas de liquidez", teria reiterado Meirelles, conforme esses relatos. Razão pela qual o Banco Central vem atuando em medidas pontuais destinadas sobretudo aos bancos de pequeno porte, o elo mais fraco da cadeia da intermediação financeira.

A avaliação corrente, no governo, é que a economia real não foi atingida pela crise externa, exceto no caso de algumas empresas que "apostaram e fizeram bobagem", como foi o caso da Sadia. Não se cogita, no governo, lançar algum tipo de socorro para esses casos.

Meirelles não falou sobre o futuro da taxa de juros, durante a reunião de ontem. A percepção no Palácio do Planalto, porém, é de que na próxima reunião, nos dias 28 e 29, o Comitê de Política Monetária (Copom), deverá interromper o processo de elevação da Selic, até para se ver melhor para onde a economia brasileira está indo. "A posição mais razoável e prudente seria não fazer nada, pois tudo que a elevação dos juros pretendia fazer, que era botar o pé no freio, está sendo feito pelo movimento geral da economia mundial", disse uma fonte qualificada. As circunstâncias mudaram muito rapidamente nos últimos dias e mesmo as indicações da ata da última reunião do Copom e do relatório de Inflação ficaram velhas precocemente.