Título: Brasil deve investir na Argentina, diz Dumont
Autor: Paulo Braga
Fonte: Valor Econômico, 24/02/2005, Brasil, p. A6

Uma das saídas para atenuar as disputas comerciais entre o Brasil e a Argentina é as empresas do sócio maior do Mercosul ampliarem sua presença no país vizinho. Na visão do secretário de Indústria argentino, Alberto Dumont, as relações comerciais entre os dois países podem melhorar com a realização de investimentos brasileiros destinados não só a ganhar espaço no mercado argentino, mas a fazer do país uma plataforma exportadora para outros mercados. "Acredito que os investimentos brasileiros que vierem para a Argentina, e já estão vindo, devem ter como objetivo não só o mercado interno, mas a exportação", disse Dumont, que no fim deste mês deixa seu cargo atual para ser o embaixador de seu país nos organismos internacionais de Genebra. Como exemplo, citou o caso da Coteminas, "que está instalada na província de Santiago del Estero (noroeste) fabricando toalhas a um custo excelente". O setor têxtil é um dos que mais se queixam da dificuldade de competir com a produção brasileira e Dumont deu a entender que empresas que decidam instalar-se na Argentina com visão de longo prazo podem ajudar a neutralizar críticas dos que se sentem em desvantagem. "O que estamos buscando é que se instalem todas as empresas que sejam eficientes, que possam produzir mais e melhor e sobretudo que possam gerar emprego", disse. Sobre os problemas na relação comercial, Dumont voltou a insistir na necessidade de promover o desenvolvimento equilibrado dos dois países, eliminando o que a Argentina considera ser "assimetrias". Uma proposta sobre o assunto foi encaminhada ao Brasil em setembro do ano passado e o governo brasileiro respondeu no mês passado que aceita discutir medidas para evitar que mudanças macroeconômicas desequilibrem a relação comercial. O secretário considerou que a resposta dada até agora foi "insuficiente" e que se a discussão não avançar, seu país continuará impondo medidas de restrição ao comércio. A principal reivindicação argentina, justamente a que mais resistência provoca no Brasil, é a criação de um mecanismo para que os investimentos de empresas não se concentrem apenas do lado brasileiro. Ele também respondeu às críticas de que a Argentina tem usado de maneira excessiva e unilateral instrumentos para conter a entrada de produtos brasileiros. "O Brasil faz seu jogo quando vê que os investimentos vão para outro lugar da região." Segundo ele, o maior exemplo disso foram as restrições aplicadas à entrada do leite argentino, limitadas por uma medida antidumping e depois por um acordo de preços mínimos, já renovado. "A imposição do antidumping destruiu, deu um golpe grande à indústria de laticínios argentina, que deveria ter sido a indústria que mais tinha a ganhar com a integração do Mercosul", criticou Dumont. Outros setores com problemas são o de medicamentos e agroquímicos. A dificuldade para esses produtos ingressarem no mercado brasileiro acaba pesando negativamente quando uma empresa vai decidir onde irá investir.