Título: BC muda de novo o compulsório e injeta R$ 23,2 bi
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2008, Finanças, p. C3

O Banco Central decidiu ontem liberar mais R$ 23,2 bilhões aos bancos, por meio da redução das exigências de recolhimento compulsório, como forma de combater a crise de liquidez que afeta o sistema financeiro. A autoridade monetária informa que continuará a monitorar o mercado para, se necessário, tomar medidas adicionais. O objetivo maior é evitar que a crise de liquidez leve a uma desaceleração da expansão do crédito bancário maior do que a almejada pelo aperto monetário em curso.

As várias reduções dos compulsórios anunciadas até agora pelo BC podem, se totalmente usadas pelo sistema financeiro, injetar até R$ 60 bilhões na economia. Na avaliação do BC, as altas alíquotas de compulsório vigentes no país dão margem para, se for o caso, ampliar ainda mais essa injeção de dinheiro.

Ontem, foram anunciadas duas medidas. Uma delas aumenta, de R$ 300 milhões para R$ 700 milhões, a parcela que pode ser deduzida nos recolhimentos compulsórios sobre deposito a prazo. Hoje, os bancos devem recolher ao BC uma alíquota de 15% sobre recursos captados sob a forma de depósitos a prazo, como CDBs, além de uma alíquota adicional de 15%. O valor do compulsório é calculado em duas etapas. Primeiro, aplica-se uma alíquota de 15% sobre os depósitos a prazo captados por cada banco. Desse valor, serão abatidos, a partir de agora, R$ 700 milhões, em vez dos R$ 300 milhões da regra anterior. A medida entra e vigor em 13 de outubro e libera R$ 6,2 bilhões ao mercado.

Outra decisão foi reduzir a alíquota adicional de compulsórios sobre depósitos à vista e a prazo. No caso dos depósitos a vista, os bancos são obrigados a recolher o equivalente a 45% dos recursos captados no mercado, acrescido de uma alíquota adicional de 8%. Nos depósitos a prazo, a regra é uma alíquota de 15% acrescida de 8%. Nos dois casos, o adicional será reduzido a 5%. Com isso, serão injetados US$ 16,9 bilhões, a partir de amanhã.

O compulsório adicional sobre depósitos em caderneta de poupança foi mantido inalterado em 10%. Os compulsórios adicionais sobre depósitos bancários foram criados em 2002, para combater os efeitos da crise da eleição do presidente Lula sobre a economia.

Desde meados de setembro o BC vem afrouxando as regras de recolhimentos compulsórios para aliviar a crise de liquidez que atinge o mercado. As turbulências reduziram as linhas de financiamento internacionais aos bancos brasileiros, obrigando-os a captarem recursos dentro do país. Os juros dos empréstimos entre bancos subiram muito e atingiram especialmente os bancos médios. Nas últimas semanas, o governo vem anunciado medidas para socorrê-los. Além de liberar compulsórios, editou medida provisória que permite ao BC conceder empréstimos de redesconto garantidos por carteiras de crédito.

A relutância dos grandes bancos em emprestarem aos menores, na avaliação do BC, criou um problema clássico de empoçamento de liquidez. A liquidez do mercado como um todo teve um novo aperto ontem, quando o BC realizou operações de venda de dólares - nas quais recolhe reais que circulam na economia. À primeira vista, a liberação de recursos no mercado pode parecer contraditório com o objetivo do BC de evitar uma disparada do dólar. Em crises anteriores, como a de 2002, o BC fazia justamente o contrário: retirava dinheiro do mercado, puxando os juros e desestimulando a compra de dólares pelos bancos. Desta vez, porém, a crise tem características diferentes, já que existe o risco de a crise de liquidez ter repercussões mais sérias na economia como um todo. O perigo é de os bancos reduzirem a oferta de crédito na economia.