Título: Economistas já vêem superávit de US$ 30 bi
Autor: Marília de Camargo César e Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 24/02/2005, Brasil, p. A7

O forte reajuste de preço do minério de ferro obtido pela Vale do Rio Doce e um desempenho bem melhor que o esperado de algumas commodities agrícolas poderão elevar de forma surpreendente o saldo da balança comercial este ano, apesar da valorização do câmbio. Alguns economistas já estão refazendo suas contas e projetando US$ 30 bilhões de superávit, quando até duas semanas atrás previam algo na casa de US$ 27 bilhões a US$ 28 bilhões. É o caso de Fábio Silveira, sócio da MS Consult. Além do impacto significativo que virá com a alta do preço do minério de ferro, Silveira está observando uma melhora "excepcional" nas vendas de produtos como café, açúcar e carnes, por causa do aumento de preços no exterior. A Vale anunciou anteontem que chegou a um acordo com a Nippon Steel e outras siderúrgicas japonesas para elevar em 71,5% o preço do minério. É o maior reajuste na história da mineradora. Em 2004, as exportações dessa commodity somaram US$ 4,8 bilhões. Com o aumento, esse número pode saltar para US$ 8,2 bilhões neste ano, US$ 3,4 bilhões a mais que em 2004, considerando que o volume vendido ao exterior continue o mesmo. A MS Consult, por exemplo, estimava exportações de US$ 7,2 bilhões neste ano, considerando um reajuste na casa de 50%. O economista Sérgio Vale, da MB Associados, também deve elevar sua projeção para o saldo da balança comercial de US$ 27 bilhões para US$ 30 bilhões, devido ao reajuste. Ele avalia que, com a alta, é possível que haja alguma queda no volume exportado, o que explica o aumento de sua projeção em US$ 3 bilhões, e não em US$ 3,4 bilhões. "É um resultado excepcional para a balança comercial. Caiu como um presente para o Brasil, num momento de valorização do câmbio e de menor demanda externa", afirma ele. Sua estimativa é de um câmbio médio de R$ 2,76 neste ano, o que supõe que haverá desvalorização do real ao longo do ano. Se o dólar continuar em R$ 2,60, o saldo será menor, afirma ele, mas o impacto mais forte ocorreria em 2006. Relatório do Credit Suisse First Boston (CSFB) nota que, como o reajuste dos preços do minério de ferro deve valer a partir de abril, o aumento de exportações neste ano deve ser de US$ 2,5 bilhões. O CSFB estima ainda que "as maiores exportações contribuem com um crescimento adicional do PIB em 2005 de cerca de 0,3 ponto percentual, assumindo que não estivesse embutido qualquer aumento das exportações de minério de ferro nas previsões". Silveira diz que tanto as estimativas para as exportações quanto o superávit da balança comercial, que foram revistos há duas semanas já levando em conta um aumento de preço para o minério, poderão crescer novamente nas próximas semanas. Por enquanto, a MS Consult prevê exportações de US$ 105 bilhões e importações de US$ 75 bilhões. Há duas semanas, o saldo projetado era de US$ 28 bilhões. Hoje, é de US$ 30 bilhões. O agronegócio pode ajudar a melhorar o superávit comercial, segundo Silveira, porque "houve uma melhora fantástica" nos últimos dois meses nos preços de bens como açúcar, café e carnes. Para exemplificar, em novembro, a projeção de exportações desse setor em 2005 apontava para uma redução de US$ 2,6 bilhões em relação ao saldo de 2004. Hoje, essa diferença caiu para apenas US$ 1,2 bilhão. E pode melhorar, acredita. O preço do açúcar subiu 58% nos últimos 12 meses no mercado internacional, sustentado por quebra de safra na Índia e uma sinalização de que o Brasil reverterá mais cana para produzir álcool nesta safra. No caso do café, o preço aumentou 54% em 12 meses, para 112 centavos de dólar por libra-peso, estimulado por um esquema mais lento de embarques dos produtores brasileiros, que também deu suporte às cotações. Para o açúcar, a consultoria informa que esperava exportações de US$ 3,3 bilhões, ante US$ 2,8 bilhões em 2004. "Mas agora esse valor pode tornar-se o piso", afirma Silveira. Para o café, a previsão é exportar US$ 2,3 bilhões nesta safra, ante US$ 1,9 bilhão em 2004, número também sujeito a revisão. A soja continua sendo o grande problema. A MS Consult estima que as vendas do produto caiam de US$ 5,34 bilhões no ano passado para US$ 4,06 bilhões em 2005. Mas as cotações do grão em Chicago já registram valorização de 13,76% neste mês, com as perdas de produção na América do Sul. Para Silveira, as empresas exportadoras têm sido bem-sucedidas na manutenção de suas vendas por alguns fatores principais. Com o aumento do uso da capacidade instalada, elas diluem custos fixos e, assim, enfrentam melhor a diferença cambial. A antecipação de contratos de câmbio também é utilizada para aplicações no mercado financeiro em busca de lucro, o que neutraliza o efeito do real valorizado.