Título: OMC convoca bancos para debater crédito
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 10/10/2008, Brasil, p. A4

O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, decidiu reunir grandes bancos e outros fornecedores de crédito para buscar soluções para a retração de financiamento das exportações, que ameaça sufocar o comércio global. Só que a data para essa reunião, dia 12 de novembro, pode provocar reações quando for revelada aos representantes dos países hoje. É um tempo muito longo diante dos problemas de crédito que os exportadores enfrentam.

O Brasil foi o primeiro país a puxar o sinal de alarme para a dificuldade de financiar exportações. Esta semana, pediu para Lamy agir porque os grandes bancos internacionais enxugaram o crédito de curto prazo (90 dias), apesar de os países em desenvolvimento estarem entre os melhores pagadores.

Fontes da OMC argumentam que Lamy quer juntar presidentes de grandes bancos comerciais internacionais, dos bancos regionais de desenvolvimento e representação das agências governamentais de crédito à exportação e importação, e que não dá para compatibilizar a agenda de todo mundo rapidamente.

A impressão preliminar da OMC é de que os bancos têm muitos recursos para financiar o comércio. O problema é o acesso a esse dinheiro, porque o custo subiu dramaticamente e nem todos os exportadores são capazes de pagá-lo. Fontes do mercado confirmam que há liquidez, mas os contratos agora cobrados dos exportadores estão 300 pontos-base mais altas, ou seja, três vezes mais do que a taxa cobrada há um ano.

A OMC constata que a crise atual repete a situação da crise asiática dos anos 90, quando as primeiras linhas de crédito cortadas pelos bancos foram para exportações e importações. Na época, a entidade teve que acionar o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), na busca de soluções.

Lamy, que já foi executivo de banco francês, em abril deste ano organizou uma mesa redonda com bancos privados, bancos de desenvolvimento e agências de crédito, quando começou a explorar as questões de financiamento comercial. Só que o aperto de crédito se faz sentir cada vez mais. O comércio internacional alcançou US$ 14 trilhões no ano passado e 95% das transações são feitas com financiamento, grande parte pela banca privada.

A OMC insiste que seu papel não é de resolver questão de financiamento, mas admite que precisa agir inclusive porque crédito é também "facilitação de comércio", um dos temas centrais na sua agenda.

A reunião com os bancos não terá participação dos países. Pelo menos sete grandes bancos internacionais estão na lista de Lamy, além do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (Berd), Banco Interamericano de Desenvolvimento (Bid), Banco Asiático de Desenvolvimento (Bad) e a International Finance Corporation, que faz parte do Banco Mundial. As agências governamentais de crédito serão representadas por sua associação, a Berne Union. Essas agências, incluindo a Hermes alemã e o Eximbank dos Estados Unidos, financiam US$ 1 trilhão do comércio internacional.

Em documento aos outros 152 países da OMC, esta semana, o Brasil pela primeira vez se posicionou publicamente contra a total implementação do Acordo de Basiléia 2, também por causa do impacto no comércio.

Por esse acordo, os bancos terão de manter mais capital em proporção do risco dos ativos. Só que, no atual clima de instabilidade financeira, suas regras podem ter efeitos ainda mais negativos no fluxo do comércio global, em vez de aumentar a estabilidade do sistema financeiro, na avaliação brasileira. Depois da reunião de 12 de novembro, a OMC fixará a data da reunião do Grupo de Trabalho sobre Comércio, Dívida e Finanças, desta vez com todos seus países membros.