Título: Secretário dos EUA vê risco de aumento do protecionismo
Autor: Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 10/10/2008, Brasil, p. A4

A crise financeira pode levar ao aumento do protecionismo, advertiu ontem o secretário de Comércio dos EUA, Carlos Gutierrez. "O risco das dificuldades dos mercados financeiros é sempre que alguém as utilize como pretexto para implantar maior proteção (tarifária). E esse é um grande erro", disse Gutierrez. Segundo ele, o presidente George Bush já disse que os EUA querem manter o mercado americano aberto.

Ele afirmou que embora existam alguns produtos para os quais os EUA não têm "total abertura", o país é o mercado mais aberto do mundo. A análise do secretário refere-se às tarifas médias de importação. O problema é que, em alguns casos, os EUA aplicam sobretaxas que impedem a entrada no mercado americano de produtos de interesse de países emergentes, como o etanol brasileiro. "Temos trabalho a fazer e aspectos a aperfeiçoar", reconheceu Gutierrez.

Ele avaliou, no entanto, que o Brasil tem condições de aumentar as exportações de etanol para os Estados Unidos via Caribe. O Caribe pode exportar para o mercado americano até 70% do volume de álcool produzido na região sem a incidência de tarifas, informou. "O Brasil não utiliza esses 70%", disse Gutierrez. Ele fez as declarações após fazer uma palestra, ontem, no Rio, para empresários em evento promovido pela Câmara de Comércio Americana. Hoje, Gutierrez participa, em São Paulo, do Diálogo Comercial Ministerial entre Brasil e Estados Unidos e de uma reunião do Fórum Bilateral de CEOs (presidentes de empresas).

Os EUA têm interesse na discussão de um acordo bilateral de investimentos com o Brasil, diz o secretário. "O objetivo é aumentar negócios, investimentos e empregos nos dois países", disse Gutierrez. Para ele, a melhor proteção para os investimentos são leis como as de direito de propriedade intelectual. Outro tema em pauta refere-se à possibilidade de um acordo tributário entre os dois países para reduzir a bitributação.

Aos empresários, Gutierrez, que faz a última visita ao Brasil como secretário de Comércio dos EUA, fez uma defesa da abertura comercial. Na visão dele, os países mais abertos, que exportam muito, têm acordos comerciais e investem, podem sair mais rápido da crise. Já os países que mantêm os mercados mais fechados devem encontrar mais dificuldades para superar os problemas criados pela crise financeira, avaliou Gutierrez.

O secretário também aproveitou o encontro com empresários no Rio para defender a retomada das negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). "Os benefícios de Doha são hoje mais importantes do que eram há seis meses", comparou. Na avaliação dele, Doha "não está morta" e o reinício das discussões depende do papel de líderes como os presidentes George Bush e Luiz Inácio Lula da Silva.

Gutierrez reconheceu que a crise financeira deverá reduzir o crescimento da economia americana, com efeitos sobre as exportações do país. "Em períodos econômicos difíceis, o Brasil, do mesmo modo que o próximo governo dos Estados Unidos e de outros países em todo o mundo, terá que estabelecer políticas para o futuro. Continuaremos em nosso caminho de abertura e engajamento global ou nos isolaremos economicamente? Espero que o Brasil, os EUA e outros países permaneçam abertos e engajados", disse Gutierrez no discurso aos empresários.