Título: Lula sinaliza mais espaço ao PMDB por acordo nas mesas do Congresso
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 10/10/2008, Política, p. A6

O jantar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a cúpula pemedebista, na quarta-feira, praticamente selou uma parceria entre PT e PMDB que passa pela eleição do deputado Michel Temer (PMDB-SP) a presidente da Câmara dos Deputados, em fevereiro de 2009, e chega até a sucessão presidencial em 2010. Mesmo sem acordo fechado, ficou claro que o PMDB terá mais espaço político ao ceder ao PT a presidência do Senado. Alan Marques/Folha Imagem - 8/10/2008 Jucá chega ao jantar com Lula, na noite de quarta-feira: "Vou trabalhar para formar uma chapa de consenso (para a presidência do Senado) com a oposição"

Lula hipotecou total apoio ao acordo eleitoral firmado em 2007 - na eleição de Arlindo Chinaglia (PT-SP) - que previa apoio do PT à eleição de Temer, presidente nacional do PMDB, para comandar a Câmara no biênio 2009-2010. O presidente garantiu que a orientação aos partidos da base aliada é os deputados votem no pemedebista.

Participaram do jantar no Palácio da Alvorada Temer, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e os senadores José Sarney (AP), Renan Calheiros (AL), Valdir Raupp (RO), líder da bancada pemedebista no Senado, e Romero Jucá (RR), líder do governo. Do governo, estavam os ministros José Múcio Monteiro (Relações Institucionais), Dilma Rousseff (Casa Civil) e Tarso Genro (Justiça).

A avaliação feita por Lula e seus convidados é que a aliança do PT com o PMDB saiu fortalecida das urnas, apesar das disputas locais entre as duas siglas. O presidente disse acreditar que, em Belo Horizonte, o deputado Leonardo Quintão (PMDB) vai derrotar Márcio Lacerda (PSB), candidato do governador Aécio Neves (PSDB) e do prefeito Fernando Pimentel (PT). "O Quintão vai dar um banho", disse.

O presidente confirmou aos pemedebistas que vai participar apenas das campanhas de Marta Suplicy (PT), em São Paulo, e de aliados em outras cidades paulistas. E concordou em manifestar apoio ao deputado Eduardo Paes (PMDB), que disputa a Prefeitura do Rio de Janeiro com o deputado Fernando Gabeira (PV). Com isso, Lula atende a pedido do governador Sérgio Cabral (PMDB).

Para evitar problemas à aliança nacional, Lula não vai participar de campanha em cidades onde há candidatos da base disputando, como Salvador e Porto Alegre, em que PT concorre com PMDB. Os ministros, por sua vez, estão liberados para fazer campanha apenas em seus Estados. "Como é que eu posso impedir a Dilma e o Tarso de irem a Porto Alegre?", perguntou Lula.

Mesmo na presença de Dilma e Tarso, os pemedebistas avaliaram que o prefeito José Fogaça (PMDB) deverá ser reeleito em Porto Alegre, derrotando a petista Maria do Rosário. Não houve maiores contestações. Todos concordaram que Fogaça tem mais habilidade política. A mesma previsão foi feita em relação ao prefeito de Salvador, João Henrique (PMDB).

Lula comentou com seus convidados que já tinha conhecimento das primeiras pesquisas de intenção de voto deste segundo turno, que seriam publicadas hoje, mostrando o prefeito Gilberto Kassab (DEM) à frente de Marta em São Paulo. Todos concordaram que é uma disputa difícil para a petista. Pemedebistas disseram a Lula que uma eventual derrota de Marta não significaria derrota dele, já que a prefeitura já é do DEM. Além disso, a oposição também não poderia capitalizar totalmente uma vitória de Kassab já que o PMDB ocupa a vice de sua chapa, Alda Marco Antônio.

Lula começou o encontro elogiando o desempenho do PMDB no primeiro turno das eleições municipais e parabenizando Temer por ter sido oficializado naquele dia candidato do partido à Presidência da Câmara. Chamou a atenção para o fato de os senadores estarem apoiando Temer, o que mostra unidade do partido.

O quadro da sucessão no Senado está menos definido. Os pemedebistas se comprometeram a adiar qualquer anúncio, para tentar um acordo com a oposição. "Vou trabalhar para formar uma chapa de consenso com a oposição", disse Jucá. O PMDB ainda não concordou em abrir mão da vaga - à qual teria direito, em tese, por ser a maior bancada. Lula gostaria que o presidente do Senado fosse do PT, para haver equilíbrio de forças entre os dois maiores partidos aliados. Mas o nome posto pelo PT é o de Tião Viana (AC), que ainda encontra resistências na própria base.

Antecipando que deve haver uma redistribuição de espaço político no PMDB, Lula disse que Renan - ex-presidente do Senado que tenta recuperar prestígio depois de se livrar dos processos por quebra de decoro- poderia ser líder do governo. O alagoano, no entanto, prefere ser líder da bancada. Temer, sendo eleito presidente da Câmara, deixaria vaga a presidência do partido. E o PMDB pode ganhar mais ministérios para acomodar suas lideranças.