Título: Minoria dos municípios tem virada no 2º turno
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 10/10/2008, Política, p. A7

Dificilmente o segundo turno nas 29 cidades em que nenhum dos candidatos obteve maioria absoluta no último domingo será marcado por viradas, como ocorreu em 2004. Há quatro anos, em um ambiente de disputa política maior, já que existiam menos candidatos à reeleição, ocorreram segundo turno em 41 cidades e em onze delas o segundo colocado na primeira rodada ultrapassou o rival na votação final. Desta vez, o número de viradas pode cair pela metade. Renato Weil/Estado de Minas/Folha Imagem - 6/10/2008 Lacerda e Quintão: com uma pequena diferença de votos (2,36%) entre os dois finalistas, a disputa em BH está entre as poucas candidatas a uma virada

O principal motivo é a diferença de votação entre os oponentes na rodada inicial. Viradas tendem a ocorrer em eleições equilibradas. Nas eleições de 1996, 2000 e 2004, a diferença média entre o primeiro e o segundo colocado nas cidades onde aconteceram viradas não ultrapassou sete pontos percentuais. Este ano, tal situação acontece em cinco das onze capitais e em quatro das dezoito cidades do interior em que há segundo turno.

"Em geral, o segundo turno não é outra eleição, como os políticos costumam dizer. É a mesma eleição. Os fundamentos da decisão de voto no primeiro turno não costumam mudar, sobretudo quando o primeiro colocado dispõe de uma maioria consolidada", afirma o consultor Alberto Carlos Almeida, do Instituto Análise.

Entre as capitais em que a diferença entre os adversários do segundo turno foi pequena, Almeida exclui São Paulo entre as que contam com maior probabilidade de uma reversão no segundo turno. "O fato de o prefeito Gilberto Kassab (DEM) estar em trajetória ascendente em avaliação administrativa e da rejeição à Marta Suplicy (PT) ser bastante alta tornam difícil acreditar em mudança de resultado", afirmou.

Almeida aposta em maiores possibilidades de virada em Salvador e Belo Horizonte. "Em Salvador, Walter Pinheiro (PT) sinaliza para mudanças na administração municipal de João Henrique (PMDB), o mesmo nicho de eleitorado que os derrotados ACM Neto (DEM) e Antonio Imbassahy (PSDB) buscavam contra João Henrique", diz Almeida, para quem o fato de não existir alinhamento ideológico entre os partidos de Neto e Imbassahy e o PT é irrelevante no cenário baiano. A diferença entre Henrique e Pinheiro no primeiro turno foi inferior a 1%.

No caso de Belo Horizonte, Almeida opina que foi a condução da campanha, e não uma vontade difusa por renovação, que fez com que Marcio Lacerda (PSB), apadrinhado do prefeito Fernando Pimentel (PT) e do governador Aécio Neves (PSDB), perdesse a condição de amplo favoritismo. O adversário de Lacerda, Leonardo Quintão (PMDB), faz parte da base de apoio de Aécio em Minas e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília.

"Houve pouco investimento da propaganda na construção de uma imagem própria para Lacerda. Em outras disputas em que pessoas sem experiência eleitoral própria foram indicadas como candidatos por seus chefes políticos, houve uma preocupação em se afastar da imagem de um mero preposto", comentou, citando casos como o de Curitiba nas eleições de 1996 e 2000, que levaram ao governo Rafael Greca e Cássio Taniguchi, do grupo do ex-prefeito e ex-governador Jaime Lerner: São Paulo em 1996, com Celso Pitta, do grupo do ex-governador e ex-prefeito Paulo Maluf: e Rio em 1996, com Luiz Paulo Conde, indicado pelo prefeito César Maia. A vantagem de Lacerda sobre Quintão no primeiro turno foi inferior a 2%.

Das capitais em que a diferença entre primeiro e segundo colocado foi substancial, Almeida pondera que problemas de avaliação da administração da atual gestão podem prejudicar a reeleição do prefeito de Belém, Duciomar Costa (PTB). Em pesquisa compilada pelo consultor, Duciomar entrou na campanha eleitoral com apenas 22% de aprovação para sua administração.

O petebista irá enfrentar no segundo turno o pemedebista José Priante, sobrinho do cacique local Jader Barbalho, atual deputado federal pelo PMDB e duas vezes governador do Estado. Em Manaus e São Luís, os primeiros colocados Amazonino Mendes (PTB) e João Castelo (PSDB) conseguiram grandes vantagens sobre os rivais, mas podem ser ameaçados pelo alto índice de rejeição. Mas Almeida lembra que não há, na história das 97 disputas em segundo turno nas eleições municipais desde 1996, nenhum caso em que uma vantagem de mais de vinte pontos percentuais se desfez na rodada final, como aconteceria em Manaus se o prefeito Serafim Corrêa (PSB) conseguir suplantar Amazonino. As reeleições de José Fogaça (PMDB) em Porto Alegre e de Wilson Santos (PSDB) em Cuiabá são as que Almeida avalia como mais prováveis. O consultor se recusou a comentar as situações de Florianópolis e no Rio de Janeiro, onde está envolvido nas campanhas.