Título: Temor de derrota em SP mobiliza Planalto
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 10/10/2008, Política, p. A9

A participação direta do secretário pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, na campanha de Marta Suplicy em São Paulo pode até não ser uma intervenção do Palácio do Planalto, como explica o governo, mas é um sinal claro de que o PT teme perder para o candidato do DEM, Gilberto Kassab, caso não aja rapidamente. Depois de Kassab derrotar a petista no primeiro turno e abrir 17 pontos percentuais na primeira pesquisa de segundo turno, a percepção, tanto no Planalto quanto no partido, é de que começa a ficar difícil para Marta reverter o atual quadro de desvantagem.

As férias de 15 dias de Gilberto foram negociadas diretamente com Lula, aproveitando que o presidente ficará a próxima semana praticamente toda no exterior. O secretário pessoal do presidente vai ajudar na discussão das estratégias de campanha do PT em São Paulo, incluindo a capital, Santo André e São Bernardo. "Além de ser um militante qualificado e experiente, ele poderá atuar no setor religioso, segmento no qual tem forte influência", admitiu um dirigente petista.

Um integrante da campanha de Marta lembrou que Gilberto já atuou no primeiro turno das eleições. Mas, no atual momento, é fundamental que "todos unam as forças para eleger Marta prefeita". O petista negou, contudo, que esteja em discussão uma mudança brusca na estratégia de campanha, que incluiria até mesmo o afastamento do marqueteiro João Santana. "Isso não existe. Precisamos dialogar melhor com a classe média? Precisamos. Mas não há tempo nem necessidade de mudanças profundas nesse segundo turno", disse o aliado da ex-prefeita.

O que há, segundo a explicação dele, é uma ligação direta do Palácio do Planalto com a coordenação de campanha municipal, diante da ausência de comando do Diretório Nacional do partido. O secretário de comunicação do PT, Gleber Naime, negou que haja algum tipo de divergência entre o PT nacional e o municipal. "As estratégias e ações de campanha são decididas pelos diretórios municipais. Nós estamos aqui para referendar as decisões do partido nos municípios", declarou Gleber.

Aliados mais próximos de Marta tentam minimizar a dianteira obtida pelo atual prefeito de São Paulo. Lembram que, em um determinado momento do primeiro turno, era Marta quem estava 17 pontos percentuais à frente - à época, sobre o tucano Geraldo Alckmin. "Eu tinha a exata noção de que as coisas mudariam quando começasse o horário eleitoral gratuito. Isso vai se repetir agora", apostou.

Em outros setores do partido e do governo, contudo, a análise é outra. Kassab aproveitou uma rota ascendente no fim do primeiro turno, que se manteve nessa primeira pesquisa e o PT não está sabendo lidar com ela nem tampouco descobriu como revertê-la. Desde o começo, Lula e o PT colocaram como prioridade a vitória de Marta. "É uma capital estratégica em um estado com um longo histórico de governos tucanos. Sabemos que é difícil", resignou-se um dirigente petista.

Além disso, o presidente Lula empenhou-se pessoalmente na campanha e uma derrota de Marta seria uma derrota política do presidente. Por fim, Kassab é afilhado político de José Serra, principal nome do PSDB para 2010. "Qualquer um pode ganhar, menos o Serra. A relação pessoal entre Serra e o presidente é ótima. Mas nada representa o anti-lulismo tão fortemente como o governador de São Paulo", resumiu um aliado do presidente.

O apoio ministerial à campanha de Marta teve seu pontapé inicial ontem, durante ato em um hotel na região central de São Paulo. A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) minimizou a pesquisa Datafolha que demonstra vantagem de 17 pontos de Kassab contra a petista. Segundo ela, ainda não se pode sentar na " cadeira da vitória, nem da derrota " .

" (Ainda) não se pode sentar na cadeira da vitória e nem da derrota, não se define eleição hoje. Eu acho que em eleição nenhuma, a não ser que se subestime o povo, você sobe de salto alto e declara que já ganhou. Não existe isso. A experiência é bastante generosa como não se deve fazer isso. Eleição se ganha quando o último voto é colocado na urna " , afirmou a ministra da Casa Civil.

Durante o ato, o também ministro Carlos Lupi (Trabalho) evocou à memória dos eleitores para criticar Kassab. " O eleitor vai ver com quem ela (Marta) está andando e com quem ele (Kassab) andou. Como o ACM Neto (candidato do DEM em Salvador derrotado no primeiro turno) " , disse Lupi. " O Kassab representa a força mais conservadora do Brasil. Não adianta ele passar de bom moço. Ele teve atos verdadeiros quando era prefeito (referindo-se ao episódio em que Kassab gritou com um homem que protestava contra ele). Eu confio na memória dos eleitores. "

Além de Dilma e Lupi, contou com as presenças de outros ministros como o da Justiça, Tarso Genro, da Educação, Fernando Haddad, dos Esportes, Orlando Silva, do Turismo, Luiz Barreto. (Com agências noticiosas)