Título: Turbulência faz alta do ouro ser superior a 30% no ano
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 10/10/2008, Investimentos, p. D2

A crise nos EUA provocou uma corrida pelo ouro. A percepção é de que, por se tratar de um ativo real, a aplicação está protegida. Só neste ano, a valorização do ouro na BM&F supera os 30%. Nos poucos dias de outubro, a alta é de 20%. Em setembro, mês do recrudescimento da crise, foram negociados 1.122 contratos na BM&F, um crescimento de 40,4% em relação a agosto. Em volume financeiro, o aumento foi de 62,4% de um mês para o outro, chegando a R$ 14,42 milhões. O número de contratos negociados neste ano até setembro já é maior do que o de 2007.

"O ouro é um porto seguro", diz o administrador de investimentos Fabio Colombo. E isso vale para o mercado lá fora e aqui, já que serve de reserva de valor em qualquer lugar do mundo. "Não é à toa que os bancos centrais têm parte de suas reservas no metal." Na opinião de Colombo, todo investidor deveria ter uma parte de seu portfólio, entre 10% e 20% do total de recursos, em aplicações defensivas, como ouro e fundos cambiais, para épocas de crise. A lógica é que esse tipo de investimento funciona como um amortecedor de prejuízos. "É como se fosse um seguro para momentos de turbulência, que ninguém sabe quando virão."

Não há como o ouro perder totalmente seu valor como pode acontecer com uma ação negociada em bolsa, defende Mauriciano Cavalcante, operador da Ourominas. O economista-chefe da Corretora Souza Barros Clodoir Vieira brinca que o ouro fica dormindo por anos e acorda na turbulência.

Cálculos feitos pela Souza Barros com base nos últimos cinco anos mostram que a variação do ouro, descontado o IPCA, ficou negativa por dois anos, em 2004 (-9,71%) e 2005 (-2,61%), enquanto o Ibovespa teve um ganho real de 9,49% e 20,84%, respectivamente. Em 2006, o rendimento real do ouro foi de 9,26% e o da bolsa, 28,88%; em 2007, o ouro subiu 6,52% e o Ibovespa, 37,52%. Neste ano, porém, o metal dá um banho na bolsa, com ganho real até setembro de 24,25%, ante uma perda real do Ibovespa de 44,59% no período.

Apesar do retorno não tão atraente no longo prazo, a vantagem de se investir em ouro, segundo Vieira, é que a volatilidade é muito menor do que a da bolsa. O economista afirma, no entanto, que entrar nesse mercado agora, depois de tamanha valorização, é para quem aposta que a crise continuará se agravando. "No curto prazo, ainda há uma chance de valorização", acredita.

Há duas maneiras de se investir no ouro, na BM&F e no mercado de balcão. Na bolsa, são negociados contratos com lote-padrão de 250 gramas, o que daria uma aplicação mínima de R$ 15,75 mil pela cotação de ontem, de R$ 63 o grama. O metal fica guardado na BM&F ou em um banco cadastrado. A taxa de custódia varia de 0,2% a 0,3% do valor da aplicação ao mês. Também é cobrada uma corretagem, que varia de 0,5% a 0,8%.

No balcão, não há lote mínimo, podendo ser negociado desde 1 grama até 1 quilo, e o metal pode ser levado pelo comprador, com certificado de garantia do teor. Não há custódia e corretagem, mas a diferença entre o valor de compra e venda acaba sendo maior, até para remunerar a corretora. A Ourominas, por exemplo, garante a recompra. Mas se o investidor retirar o lacre da barra, o metal terá de ser derretido e reavaliado. Há também o problema de onde guardar o metal sem o risco de roubo.