Título: Exportação de algodão ganha força
Autor: Scaramuzzo, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 10/10/2008, Agronegócios, p. B12

Os produtores de algodão do país estão segurando as vendas no mercado interno para priorizar os contratos de exportações, uma vez que o dólar voltou a ganhar força frente ao real nas últimas semanas. O ritmo de vendas da safra 2007/08, que está praticamente 100% colhida, voltou a se acelerar, com cerca de 680 mil toneladas da pluma já comprometidas para o exterior. No ano de 2007, os embarques ficaram em 420 mil toneladas. Na soja, os mais capitalizados também estão se beneficiando com a valorização da moeda americana.

Desde o início desta semana as exportações de algodão estão remunerando mais que as vendas no mercado interno, segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq). "Isso não ocorria desde janeiro de 2006", afirmou Lucílio Alves, pesquisador de algodão do Cepea.

Tradicionalmente, os produtores de algodão negociam antecipadamente os volumes de exportação. "Agora, há uma corrida para travar os preços com o dólar valorizado", afirmou Alves. Para o ano de 2009, os produtores brasileiros já comprometeram um volume de 500 mil toneladas para o mercado externo.

No mercado interno, os produtores já comercializaram antecipadamente cerca de 500 mil toneladas, mantendo o mesmo ritmo sobre igual período de 2007.

Mas, mesmo com o incentivo atual do dólar, os produtores deverão reduzir a área da pluma para a próxima safra, a 2008/09, que começa a ser plantada a partir de novembro em algumas regiões do Sul do país. O plantio deverá apresentar uma queda de 9% para 2008/09, totalizando 1 milhão de hectares, de acordo com a consultoria Safras&Mercado. O Estado do Mato Grosso, maior produtor do país, deverá perder 12% da área de algodão para outros grãos, como soja e milho. O oeste baiano, que tradicionalmente não cede área, pode recuar entre 1% e 2%.

"Há uma grande indefinição sobre os preços futuros do algodão no mercado internacional para os próximos meses", disse Rafael Poerschske, analista da Safras. Esse fator, aliado às melhores cotações da soja, pesou na decisão do produtor em reduzir o plantio da pluma no país. A área plantada deverá cair de 1,1 milhão de hectares para 1,004 milhão, segundo a consultoria.

No início do segundo semestre deste ano até a primeira quinzena de setembro, as cotações do algodão seguiam sem sustentação no mercado interno por conta do avanço da colheita da pluma no país. Mas a partir da segunda quinzena de setembro, as cotações voltaram a ficar firmes.

O suporte das cotações no mercado interno tem como reflexo a valorização do dólar sobre o real, desencadeada pela crise financeira global, e também a retomada do Pepro (Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural), que garante preço mínimo ao produtor. "Mais capitalizados, os produtores de algodão não têm necessidade de vender sua produção no mercado interno", disse Poerschke.

Na soja, os produtores mais capitalizados também estão se beneficiando com a valorização da moeda americana. Em Mato Grosso, maior produtor do grão no país, 2% da soja colhida na safra 2007/08 ainda não foi comercializada, o equivalente a cerca de 500 mil toneladas. Em todo o país, ainda há entre 7% e 8% da produção disponível para venda, ou pouco mais de 4,5 milhões de toneladas, segundo dados da Agência Rural.

"O produtor que segurou a soja até agora deixou de vender no preço teto, atingido em julho, mas o "santo câmbio" veio para socorrer esse produtor" diz Eduardo Godoi, analista da Agência Rural. "A alta do dólar manteve o preço em um bom patamar em reais". (Colaborou Patrick Cruz)