Título: Economista prevê recessão significativa nos EUA
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 10/10/2008, Finanças, p. C3

Os Estados Unidos estão prestes a passar por uma "recessão bem significativa" que só deve mostrar sinais de melhora no final de 2009. "Certamente, vários setores da economia já estão em recessão há algum tempo. Os números de crescimento são bem negativos", afirma Douglas Smith, economista-chefe para as Américas do banco inglês Standard Chartered.

Segundo o executivo, em função do agravamento da crise, o banco acabou de rever suas previsões para o desempenho da economia americana. Agora, as estimativas são de retração de 0,5% no terceiro trimestre deste ano e de 1,5% no próximo. Para os três primeiros meses de 2009, a previsão também é de nova queda de 1,5%. "O risco é de os números venham piores do que nossas projeções. Será doloroso", disse o executivo, pouco otimista com os desdobramentos da crise.

Sobre o resultado do pacote de ajuda do governo, que prevê desembolsos de até US$ 850 bilhões para comprar títulos podres dos bancos, Smith afirma que apesar do mercado querer um resultado instantâneo, as medidas podem "facilmente demorar meses" para funcionar. "Três meses atrás eu nunca acharia que estaríamos na posição em que estamos hoje."

Smith é um veterano das crises. Ele trabalhava no Tesouro americano no final dos anos 90, período marcado pelas crises da Ásia e da Rússia e pela desvalorização do real no Brasil, depois de anos de câmbio fixo. Na época, Smith assessorou Robert Rubin (secretário do Tesouro entre 1998 e 1999 ) e Lawrence Summers (secretário entre 1999 e 2001) com relação aos problemas financeiros da America Latina.

Sobre o impacto da crise atual nos países emergentes, o economista afirma que as economias mais abertas, como as da Ásia, vão sofrer mais. Cingapura, Hong Kong, Taiwan e Malásia devem entrar em recessão porque vendem muito para os EUA. "A China continua a crescer bastante e acho que autoridades vão fazer de tudo pra manter a economia crescendo. O Brasil continua indo bem", disse ele.

Para Smith, é preocupante o fato de que, a cada vez que uma nova medida é adotada pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) e pelo Tesouro americano, o resultado sobre os mercados seja mais fraco que o da medida anterior. "Muitas dessas medidas ainda não saíram do papel, então há algum otimismo de que uma vez que o Tesouro comece a comprar ativos tóxicos dos bancos, eles possam voltar a emprestar."

Douglas Smith participou de uma conversa pela internet com a gestora Rio Bravo, obtida com exclusividade pelo Valor. O principal assunto foi a crise financeira. O áudio da entrevista ("podcast") está disponível a partir desta sexta-feira no site da gestora. (ASJ)