Título: Recurso do BNDES para térmica fica mais caro
Autor: Goulart, Josette
Fonte: Valor Econômico, 13/10/2008, Empresas, p. B7

As empresas que venderam usinas termelétricas em leilões de energia nova e estavam esperando a liberação do financiamento do BNDES para este ano podem ter que arcar com uma alta no custo do financiamento. Isso porque os empréstimos para importação de equipamentos para essas usinas são indexados a um índice misto composto por dólar ou IPCA mais um outro índice chamado Encargos de Cesta de Moedas, atrelado a variação cambial. Um relatório do banco Santander, divulgado na semana passada, mostra que entre as companhias de capital aberto a MPX Energia, do empresário Eike Batista, e a EDP Energias do Brasil são as que correm o maior risco de terem seus empréstimos corrigidos.

A MPX tem três importantes projetos nessa condição, segundo o relatório. A de Pecém I (720 MW), Itaqui I (360 MW) e Açu I (2,1 mil MW). A empresa não se pronunciou sobre o assunto, mas, de acordo com as notas explicativas de seu balanço do segundo trimestre, as usinas de Itaqui I e Açu I ainda estão apenas em projeto. A unidade de Açu estava prevista para ser vendida no último leilão de energia nova do governo, mas em função da alta do dólar a empresa decidiu retirar o projeto da disputa.

A usina de Pecém I está sendo construída em parceria com a Energias do Brasil e por isso as duas figuram com o maior risco de terem o financiamento corrigido. O balanço da MPX informa que, para as obras da usina, já foi fechado um contrato de R$ 1,9 bilhão para a construção. Para esse empreendimento, a empresa tem um empréstimo-ponte de US$ 270 milhões que vence em abril de 2009. A previsão é quitar o empréstimo com recursos do BNDES e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

A MPX Energia tem uma série de projetos em carteira, mas só começará a gerar receita a partir de 2012, quando inicia a entrega de energia. A empresa lançou ações na Bovespa em dezembro de 2007 e captou R$ 2 bilhões. De lá para cá, as ações da companhia despencaram. Desde janeiro, a queda é de 86,49% e a ação vale R$ 139,00. Em seu lançamento, era cotada a R$ 1.006.

A Energias do Brasil também perdeu valor neste ano em função da crise. No acumulado de 2008, os papéis se desvalorizaram 23% até sexta-feira. De acordo com o relatório do Santander, a empresa, depois da MPX, é a que mais possui projetos em seu portfólio que ainda precisam de aprovação de empréstimos do BNDES. A empresa foi procurada e, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que não iria se pronunciar sobre o assunto. Recentemente a companhia saiu da parceria com a MPX para a construção de Pecém II em função das condições de mercado em que a usina foi a leilão no fim de setembro. As duas empresas continuam parceiras em Pecém I.

O BNDES informou que desde 2001 emprestou cerca de R$ 2 bilhões para projetos termelétricos, com capacidade instalada de 2.760 MW. Desse total, um terço está atrelado à Unidade Monetária do BNDES que reflete o custo das captações de recursos do banco, inclusive em moeda estrangeira. O banco informa ainda que os projetos termelétricos podem ser apoiados com custo financeiro 100% atrelado à Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP). Mas a parcela destinada a compra de maquinário importado é atrelado à cesta de moedas, dólar ou IPCA.