Título: ArcelorMittal estuda cortar produção em 20% em Tubarão
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 13/10/2008, Empresas, p. B9

A Arcelor Mittal Tubarão, antiga Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), poderá cortar cerca de 20% de sua produção de placas neste último trimestre do ano. A informação foi divulgada em relatório do banco americano Goldman Sachs sobre o setor siderúrgico. José Armando de Figueiredo Campos, presidente da Arcelor Mittal Brasil e da usina capixaba, admitiu que a empresa estuda alternativas para fazer um ajuste na produção de acordo com o mercado. "Não é corte o que vamos fazer, é um ajuste e o número não é 20%. Não podemos ficar parados quando um trem está vindo em nossa direção", disse o executivo, atribuindo a informação do Goldman a algum concorrente.

Se o corte anunciado se confirmar será o primeiro ajuste de produção na história da ex-CST, como destaca o documento do banco americano que circulou na sexta-feira. A usina da ArcelorMittal está situada em Serra, município da região metropolitana de Vitória, no Espírito Santo, e pode ser a primeira siderúrgica obrigada a reduzir oferta por causa da crise dos mercados. Previsões feitas no início do ano informam que a empresa deveria produzir 4,7 milhões de toneladas de placas de aço e 2,8 milhões de toneladas de laminados à quente este ano. Para 2009, as projeções eram de 4 milhões de toneladas de laminado à quente e 3,5 milhões de toneladas de placas de aço.

Maior do mundo em seu setor, a ArcelorMittal tem liderado, nos últimos dois meses, um movimento estratégico dos grandes grupos siderúrgicos internacionais para fazer cortes na produção de aço. O objetivo é tentar reduzir a oferta do produto e evitar que seus preços continuem despencando. A expectativa de recessão mundial por causa da crise do crédito no mercado financeiro internacional tem paralisado os consumidores de aço que não estão tomando decisões de compra até terem uma idéia da extensão da crise. A ArcelorMittal já cortou produção na Ucrânia, Estados Unidos, estuda cortes na Europa e no Brasil.

O Goldman traça um cenário base de forte queda dos preços dos produtos siderúrgicos, pelo menos até meados de 2009. Na sua projeção o preço da tonelada do laminado à quente cotado hoje a US$ 1.100 deve cair, no curto prazo, para US$ 734 a tonelada FOB, derrubado pelo enfraquecimento da demanda nos Estados Unidos, Europa e China. O banco americano arrisca uma taxa de 8,7% para o PIB chinês em 2009. Este movimento deve afetar também as siderúrgicas da América Latina neste último trimestre e em 2009, apesar da região manter ainda uma situação apertada de oferta e demanda de aço.

No Brasil, a desvalorização cambial pode afetar negativamente o custo das empresas, levando seus resultados a cair bastante no quarto trimestre e primeiro de 2009, avalia Marcelo Aguiar, que assina o relatório do Goldman, junto com Eduardo Couto e Pedro Grimaldi.

Segundo os analistas, a enorme volatilidade dos mercados e a desvalorização cambial no Brasil, com o dólar em R$ 2,00 no ano que vem, conforme projeção do Goldman, pode pressionar os preços locais para cima e levar as usinas a reduzir o valor do aço brasileiro de 5% a 15%, para evitar que o produto nacional fique mais caro do que o importado. Uma simulação de cenário negativo feita pelo Goldman trabalha com um preço do laminado à quente de até US$ 650 lá fora, contra o preço do produto brasileiro na faixa de R$ 2 mil ou US$ 1 mil. Então um cenário com o dólar a R$ 2 e o laminado no exterior a preço baixo, em um momento de recessão, afeta o produtor nacional, pressagiam os analistas do Goldman.