Título: Cresce pressão por socorro a bancos
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 13/10/2008, Finanças, p. C4

Banqueiros e investidores ampliaram nos últimos dias as pressões para que os Estados Unidos e a Europa lancem planos ainda mais audaciosos para socorrer o sistema financeiro, indicando que o ceticismo gerado pelas medidas anunciadas até agora continuará alimentando muita instabilidade nos mercados. Um objetivo central dessas pressões é convencer os governos dos países mais avançados de que a melhor maneira de estabilizar o sistema, a esta altura, seria injetar recursos públicos diretamente nos bancos para capitalizá-los, o que ajudaria a persuadir investidores privados a perder o medo e fazer a mesma coisa. Hannelore Foerster / Bloomberg News Josef Ackermann, presidente do Deutsche: "As medidas têm de ser arrojadas"

Autoridades americanas e européias têm se mostrado cada vez mais inclinadas a adotar soluções desse tipo, mas a falta de detalhes sobre os planos que serão executados e os critérios que orientarão a escolha das instituições que poderão ser beneficiadas tem alimentado o nervosismo dos investidores. "As medidas precisam ser arrojadas e os detalhes, mais específicos", disse ontem o presidente do Deutsche Bank, Josef Ackermann. "É importante que as autoridades não apenas anunciem seus planos, mas os implementem com rapidez a partir desta semana."

Líderes europeus concordaram ontem com a adoção de várias medidas, incluindo o uso de recursos públicos para um amplo programa de recapitalização dos bancos. O Reino Unido lançou na semana passada um pacote que reserva o equivalente a US$ 255 bilhões para ajudar os bancos britânicos. França e Alemanha prometem anunciar nesta semana as medidas que vão tomar.

A movimentação na Europa ampliará as pressões para que os EUA se mexam mais rapidamente. O pacote de US$ 700 bilhões aprovado há duas semanas permite que o Tesouro americano ajude os bancos adquirindo os ativos problemáticos que estão apodrecendo em suas carteiras e injetando recursos públicos diretamente em troca de ações preferenciais.

Mas o plano americano até agora não saiu do papel e as incertezas que envolvem sua execução aumentaram nos últimos dias. As autoridades ainda não definiram como vão adquirir os ativos ruins que estragaram os balanços dos bancos, mas já começaram a pensar em outras medidas e indicaram que a capitalização do sistema terá ênfase maior agora.

"Os mercados reagirão mal sempre que houver dúvida ou a resposta dos governos for considerada inconsistente", disse o economista Vincent Reinhart, do Instituto da Empresa Americana (AEI). "O comportamento errático dos governos até aqui deu tempo para os administradores de muitas instituições esconderem seus problemas e criou oportunidades para os especuladores."

Autoridades americanas emitiram sinais nos últimos dias de que o programa de aquisição de papéis podres que originalmente era o objetivo do pacote de US$ 700 bilhões poderá ser transferido na prática para os dois gigantes do mercado de hipotecas americano, Fannie Mae e Freddie Mac, que hoje são controlados pelo governo e têm cerca de US$ 200 bilhões para gastar com essa finalidade.

Alguns economistas têm sugerido ao governo que só ajude a capitalizar instituições que forem capazes de captar no setor privado um volume de recursos equivalente ao apoio oficial. Muitos acreditam que será preciso mobilizar bem mais do que os US$ 700 bilhões liberados pelo Congresso para o pacote do governo. No setor, as estimativas mais assustadoras chegam a US$ 2 trilhões.

Ninguém sabe como serão escolhidos os bancos que terão apoio. "Os governos não podem fazer isso às cegas", disse o economista Raghuram Rajan, da Universidade de Chicago. "Eles precisam de tempo para identificar as instituições que terão condições de continuar solventes se tiverem ajuda e quais não terão como sobreviver em nenhuma hipótese."

Rajan e outros especialistas sugerem que os governos primeiro definam que tipo de instituição financeira poderá entrar no programa, oferecendo temporariamente garantias amplas para todos os seus depósitos e suas dívidas. Isso ajudaria a recuperar a confiança nos mercados e daria tempo para um exame mais cuidadoso da saúde financeira dessas instituições.

Os bancos estão preocupados com os efeitos que a intervenção dos governos terá sobre a competição no setor. Eles temem perder clientes para outras praças se um país oferecer maior segurança para os bancos do que os vizinhos. Há poucos dias, bancos britânicos perderam depósitos assim que a Irlanda anunciou garantias mais generosas aos bancos irlandeses.

Os banqueiros também estão aflitos para saber o grau de ingerência governamental que precisarão aceitar em troca da ajuda que receberem. Na década de 90, quando a Suécia enfrentou uma crise bancária de características semelhantes à atual, o governo afastou executivos das instituições que ajudou a capitalizar e promoveu fusões para reorganizar o sistema.