Título: Emergente terá menos capital
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Fonte: Valor Econômico, 13/10/2008, Finanças, p. C4

O fluxo de capital externo para países emergentes como o Brasil será reduzido de forma significativa como resultado da crise financeira global neste ano e no próximo, de acordo com projeções apresentadas ontem pelo Instituto de Finanças Internacionais (IIF), uma associação que representa os maiores bancos do mundo.

A organização prevê que os mercados emergentes receberão US$ 562 bilhões no próximo ano em empréstimos, investimentos diretos e aplicações nas bolsas de valores. É bem menos do que os US$ 899 bilhões que eles receberam no ano passado, em termos líquidos, ou seja, descontadas as remessas feitas por esses países para investimentos, pagamentos de juros e outros compromissos externos.

A América Latina deverá receber US$ 115 bilhões no próximo ano, em termos líquidos. O IIF prevê que as bolsas de valores da região perderão US$ 4 bilhões neste ano, mas voltarão a atrair um fluxo positivo de investimentos estrangeiros em 2009. Investimentos diretos nas empresas da região provavelmente manterão os níveis observados nos últimos anos, segundo as estimativas do IIF.

Apesar do impacto que a crise financeira e a desaceleração da economia mundial terão sobre todos os emergentes, os banqueiros expressaram otimismo sobre as condições que a maioria desses países terá de resistir ao tranco. "O Brasil está numa boa posição para enfrentar a tempestade", disse o vice-presidente do Citigroup, William Rhodes.

Todos os países deverão crescer menos neste e no próximo ano, mas as reservas internacionais acumuladas nos últimos anos permitirão que eles lidem melhor com a contração dos mercados de crédito e a retração dos investidores estrangeiros, na avaliação dos banqueiros. Mesmo assim, países que ainda dependem muito de capital externo poderão ter problemas, como os do Leste Europeu.

Existe também a possibilidade de que as reservas acumuladas nos últimos anos sejam consumidas rapidamente se os governos tentarem proteger suas moedas contra desvalorizações intensas como as verificadas no Brasil e em outros países nas últimas semanas. Mas esse risco é bem menor a esta altura, na opinião de investidores experientes.

"Países como o Brasil e a Rússia acumularam um nível de reservas que excede em muito o que poderia ser justificado como precaução e por isso acredito que não terão grandes problemas agora", disse no sábado Mohamed El-Erian, co-executivo-chefe da Pimco, uma das maiores administradoras de fundos de investimento do mundo. (RB)