Título: Projeções para o Ibovespa estimularam investidores
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 13/10/2008, Investimentos, p. D2

Quando começou a investir na bolsa, em abril deste ano, o empresário do setor de construção civil Sergio Augusto sabia que estava entrando num momento que o mercado já havia subido muito. "Mas as projeções eram de que a bolsa iria subir mais", lembra ele. "Todo mundo dizia que o índice superaria os 80 mil." Mas, com a piora da crise, o mercado foi do céu ao inferno, sem escalas. Conclusão: o empresário viu as suas aplicações caírem pela metade.

Apesar disso, ele diz que não está histérico mesmo tendo todos os seus investimentos em ações. Está apenas preocupado com os reflexos disso na economia real. "Não vivo de bolsa e esse mercado em baixa não vai durar eternamente; a bolsa cai mais em alguns períodos que outros", diz. "Meu medo está numa possível contaminação na economia real, pois é dela que dependo." Em sua carteira estão papéis da Petrobras e Vale. Sua estratégia durante meses foi comprar uma ação e vender uma opção de compra dessa mesma ação - dever de vender para a contraparte um papel a um preço estabelecido numa data futura. Mas a venda de opções foram praticamente abandonadas diante de tanta volatilidade.

Enquanto alguns investidores se desesperam com a queda da bolsa, outros vêem oportunidades. "Queria ter um rio de dinheiro para comprar ações agora", diz Iozildo Massa, executivo do mercado financeiro aposentado. Aos 66 anos, Massa acompanha as peripécias da bolsa de sua chácara em Tanabi, região de São José do Rio Preto, interior de São Paulo. "Essa tormenta não assusta", diz ele, que começou a trabalhar no mercado em 1961 e chegou a ter como colega o ex-presidente do Unibanco e da Febraban Gabriel Jorge Ferreira.

Massa era funcionário do Comind em 1985 quando o banco foi liquidado, e trabalhou na liquidação dos ativos da instituição até 2003, quando resolveu criar galinhas-d"angolas, plantar café e cuidar de sua carteira de ações. "Meu dinheiro está todo enterrado lá", diz ele, que admite ter perdido muito dinheiro com a queda do mercado. "Comprei Gol a R$ 37, agora está a R$ 8,66, mas não considero prejuízo porque não vendi." Ele acha também que o mercado do jeito que está, fortemente instável, abre oportunidades de ganho para quem gosta de risco. "O preço das ações varia 5%, 10% no dia, se você souber comprar e vender pode ganhar muito", diz ele, que tem três filhos, um dos quais se dedica apenas à bolsa há dois anos.

Já o dentista Marcelo Antunes Paiva, de 37 anos, não tem do que reclamar. Ele vendeu as ações que tinha em maio, pouco antes da crise estourar. "Eu tinha umas quatro ações, entre elas Localiza, Petrobras e Vale, mas resolvi ir viajar e vendi", diz. Agora, está pensando em comprar de novo. "Mas não devo colocar mais de 35% das economias em bolsa."