Título: Petrobras estuda dobrar contratações
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 14/10/2008, Brasil, p. A4

A exploração de petróleo nos blocos de concessão já contratados na chamada área do pré-sal pode levar a Petrobras a dobrar sua necessidade de mão-de-obra própria adicional que, no plano estratégico até 2012 está estimada em 11 mil pessoas. "Não acho improvável dobrar os 11 mil, até porque estamos aumentando o horizonte (na nova versão do plano estratégico)", disse ao Valor Mariângela Mundim, gerente de Planejamento de RH da estatal. A estimativa feita pela gerente da Petrobras leva em conta a velocidade de exploração das áreas de pré-sal prevista antes da forte queda do preço do petróleo provocada pela crise financeira internacional.

Embora concorde que o mercado está aquecido, em grande parte pela ação da própria Petrobras, Mariângela considera que "tem havido muito alarmismo e sensacionalismo" no que toca a um possível gargalo na formação de pessoal para o setor de petróleo, especialmente de nível superior. "Em nenhum dos nossos processos seletivos têm faltado candidatos", afirmou a gerente.

No concurso feito pela estatal este ano, para contratação de 1.065 candidatos de nível médio e superior, inscreveram-se 146.036 candidatos, o que representa uma relação de 137 candidatos por vaga. Especificamente para o cargo de engenheiro de petróleo júnior, a estatal ofereceu 251 vagas e apareceram 18.809 candidatos, 75 por vaga. Ela admite que com o pré-sal a demanda crescerá muito para a Petrobras e para seus fornecedores e prestadores de serviços.

"Estamos mapeando a demanda que a Petrobras terá e o nível de atividade que iremos gerar no mercado", disse. Um exemplo da demanda adicional na área de serviços é a possibilidade, que está sendo estudada, de ser necessário criar plataformas intermediárias entre os campos do pré-sal, localizados a cerca de 300 quilômetros da costa, e as bases terrestres. Essas plataformas funcionariam como bases intermediárias para os helicópteros que levarão pessoal aos locais de produção de óleo e gás, uma vez que a distância a ser percorrida seria muito grande para a autonomia de vôo das aeronaves.

A gerente do RH da Petrobras disse que, além de não ter havido até agora escassez de pessoal no mercado, a empresa conta com seu próprio centro de formação de pessoal, batizado de Universidade Petrobras, que pode adaptar os profissionais contratados para as necessidades mais prementes. "Nós admitimos várias formações de engenharia e as pessoas fazem depois um curso de um ano para serem engenheiros de petróleo ou engenheiros de processamento, por exemplo", explicou.

Em 2006, quando a estatal admitiu 8.000 profissionais, a Universidade Petrobras treinou 2.468 pessoas em cursos de formação, desenvolvimento gerencial e supervisão. No ano passado o total caiu para 2.100 porque, segundo Mariângela, o número de admitidos foi menor. Ela disse ainda que a Petrobras gastou, em 2007, R$ 300 milhões com treinamento, o que resultou em 130 homens/hora treinados, diante de uma média internacional de 30 a 35 homens/hora.

A Agência Nacional do Petróleo (ANP) possui um programa de treinamento de pessoal de nível médio e superior para atender a demanda do setor de petróleo e gás. Segundo informações da agência, seu programa de recursos humanos na área de ensino superior apóia 36 programas em 23 universidades de 13 Estados. No Ensino Médio, o programa atua em parceria com os Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets) e com o Centro de Tecnologia do Gás, com sede em Natal (RN).

Desde 1999, segundo a agência, foram aplicados R$ 145 milhões na concessão de 4.586 bolsas de estudos em 44 cursos de especialização ministrados por 31 instituições de 16 Estados. Os recursos são do orçamento da própria ANP, voltados para o ensino médio, e do Plano Nacional de Ciência e Tecnologia do Setor de Petróleo e Gás Natural (CT-Petro), voltado para o ensino superior. Segundo tabela publicada no site da ANP, a última liberação para a área técnica foi de R$ 417, 3 mil em 2004. Para a área do ensino superior, o orçamento para este ano é de R$ 6 milhões, ante 27 milhões em 23007. O valor total para 2008 é o menor desde os R$ 538,8 mil de 1999.

O superintendente de Pesquisa e Planejamento da ANP, Florival Carvalho, disse que as dotações para o ensino médio foram realmente paralisadas por falta de recursos da agência. Quanto às do ensino superior, a forte queda de 2008 é explicada por uma mudança na forma de apresentar o orçamento. Até o ano passado, segundo ele, era feita a previsão e os recursos entravam pelo ano seguinte adentro. Então, parte dos R$ 27 milhões de 2007 foram aplicados este ano. E ontem, a direção da ANP contratou com a Finep mais R$ 19,4 milhões para até junho de 2009.

Segundo Carvalho, o importante é que em 2008 cresceu o número de bolsas concedidas e os valores dessas bolsas foram equiparados aos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Ele não forneceu os números. O executivo da ANP disse ainda que, embora neste momento nem todos os setores da Petrobras estejam preocupados com carência de pessoal, a ANP considera essencial, dado o número de projetos existentes em vários setores, acelerar a formação de pessoal, inclusive abrindo novas escolas, especialmente de engenharia e de geologia.

Um levantamento feito pelo Valor sobre 13 formações de nível superior direta ou indiretamente relacionados com a indústria do petróleo, escolhidas aleatoriamente, mostrou que em 2006, ano do último Censo Educacional já divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, vinculado ao Ministério da Educação, mostrou a existência de 153 cursos de graduação, sendo 80 públicos e 73 privados, nos quais estavam matriculados 25.874 alunos. Em 2006 esses cursos matricularam 7.875 novos estudantes.