Título: Fatura para conter efeitos da crise no País já chega a US$ 22,9 bi
Autor: Aliski, Ayr
Fonte: Valor Econômico, 22/10/2008, Finanças, p. B1

Brasília, 22 de Outubro de 2008 - O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, apresentou a primeira parte da fatura já paga pelos brasileiros para estancar a crise: US$ 22,9 bilhões na tentativa de segurar a alta do dólar e manter irrigadas as linhas de crédito para o comércio.

Do total, US$ 3,2 bilhões foram efetivamente desembolsados, ou seja, saíram das reservas internacionais para serem leiloados no mercado à vista. Outros US$ 3,7 bilhões, o BC vendeu com o compromisso de recompra. As linhas de crédito para o comércio exterior já somam US$ 1,6 bilhão. As operações de swap cambial - nas quais o BC não libera dinheiro em espécie - chegam a US$ 12,9 bilhões e a não-rolagem do swap reverso, US$ 1,5 bilhão.

Apesar de a conta já apresentar números concretos para a economia do Brasil, Meirelles e Mantega tentaram minimizar os impactos da crise mundial sobre o País. Eles argumentaram que fatores antes criticados -como o aumento das reservas internacionais, atualmente em mais de US$ 203 bilhões; o elevado estoque de compulsórios (53%), a troca da dívida pública referenciada em dólar por reais e até mesmo a baixa exposição do Brasil no fluxo de comércio mundial - agora são usados como mecanismos importantes no amortecimento dos efeitos da turbulência financeira global.

"Estamos diante de uma crise internacional muito forte, provavelmente a mais forte que nossa geração pôde vivenciar, que do ponto de vista de sua repercussão, de sua intensidade, só pode ser comparada à crise de 1929", disse Mantega na Câmara dos Deputados. Segundo destacou o ministro, o mundo vive atualmente uma crise de "trilhões", enquanto que turbulências no passado recente, como as do México, da Rússia e da Ásia, foram lembradas como "regionais" e "de milhões". Meirelles apresentou dados indicando que as intervenções governamentais dos países ricos já somam US$ 595 bilhões.

Mantega aproveitou a oportunidade para preparar os ânimos dos parlamentares para a continuidade dos problemas. "Não acredito que essa crise esteja acabando. Estamos diante de uma crise de longa duração, mas a fase aguda foi superada", afirmou. O Brasil vai sentir os efeitos da restrição do crédito mundial e custo mais alto do financiamento. Por isso, destacou que o governo já agiu e vai continuar atuando para manter a economia em aceleração. Mantega manteve a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 5% em 2008 e entre 4% e 4,5% para 2009.

A estratégia é usar instrumentos oficiais como o colchão de reservas internacionais e do compulsório, manter baixa a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) para incentivar novos investimentos, entre outros.

Meirelles destacou que concessão de Adiantamento de Contratos de Câmbio (ACCs) caiu de média de US$ 238,8 milhões, em setembro; para US$ 116,2 milhões, na média dos dez primeiros meses de outubro. Os números justificaram a intervenção federal no financiamento das exportações brasileiras, como um dos instrumentos para manter a economia em crescimento.

O ministro reforçou aos deputados que a crise atual é sistêmica, atingindo a todos os mercados e países. "Porém não atinge igualmente a todos os países", declarou. Foi a deixa que Mantega teve para tentar comprovar que o Brasil sentirá os efeitos dos problemas internacionais, mas em menor intensidade que no foco dos problemas: Estados Unidos e, em seguida, Europa e Japão. Mantega citou que os países ricos estão mais fragilizados que os emergentes (e, em especial, o Brasil) para enfrentar a fase de recuperação depois do ápice da crise, tendo suas instituições financeiras fragilizadas, entre outros fatores.

Mantega chegou a usar o termo "ativos tóxicos" para referir-se aos títulos subprime do mercado hipotecário norte-americano, títulos esses que são o símbolo principal da crise financeira norte-americana e que contaminaram carteiras até mesmo da Rússia. Mantega lembrou ainda que os Estados Unidos enfrentam ainda mais dificuldades, com déficits fiscal e comercial, o que dificulta ainda mais o combate ao caos financeiro interno.

Ver também página B2(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Ayr Aliski e Viviane Monteiro)