Título: Petrobras adia anúncio do novo plano
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 14/10/2008, Empresas, p. B9

A crise financeira mundial já causa impactos sobre a bilionária indústria do petróleo: além da restrição ao crédito às companhias, o setor enfrenta queda dos preços da commodity - que atingiu US$ 147 o barril neste ano. Ao mesmo tempo, variáveis importantes ainda não estão claras no novo cenário da economia mundial, como o nível de consumo de combustíveis e como ficarão os preços de equipamentos. No Brasil, a Petrobras adiou para a primeira quinzena de dezembro a divulgação do seu plano estratégico para o período 2009-2013, onde deverão constar os pesados investimentos necessários para colocar em produção alguns campos do pré-sal. O plano atual, que contempla o período 2008-2012 prevê US$ 112,4 bilhões. Todavia, já está defasado. Leo Pinheiro / Valor Barbassa, diretor financeiro, afirma que cenário atual requer cautela, mas não vê dificuldades de crédito para projetos

O plano estratégico seria lançado este mês e a expectativa em torno dele é grande, pois trará as projeções de investimentos nas áreas do pré-sal. Almir Barbassa, diretor financeiro e de relações com investidores da Petrobras, diz que a crise financeira ainda não influencia a companhia, mas segundo ele "o cenário requer cautela". Afirma que apesar das oportunidades serem grandes, "o mundo está mudando". Por isso, a estatal decidiu não desenvolver projetos em cenário de pressão.

A subsidiária brasileira da alemã Schulz, fornecedora do setor, está redimensionando sua capacidade de produção, com maior foco em equipamentos para exploração e produção ("upstream") porque avalia que haverá um freio nos investimentos em novas refinarias, projetos petroquímicos e na expansão do etanol ("downstream"), explica Marcelo Bueno, presidente da Schulz.

O diretor da Petrobras ressalta que o atual momento econômico tem mais influência no médio prazo, dependendo da extensão da crise mundial. "Para períodos mais longos", diz, "a crise tem influência pequena, afinal, ninguém duvida que o mundo vai continuar a consumir petróleo. E até em um cenário de pouco crédito a empresa tem capacidade de se auto-financiar", acredita. Como antídoto para a escassez de crédito, ele cita como exemplo a geração de caixa (medida pelo Ebitda) da Petrobras, de US$ 20 bilhões a US$ 30 bilhões por ano.

Na estatal os investimentos mais pesados no pré-sal estão programados para daqui a três ou quatro anos. Até lá, deverão chegar novas sondas para perfurar os poços que permitirão o início da produção em grande escala. O primeiro campo é Tupi, cujo custo de extração de cada barril de petróleo ainda é desconhecido. Barbassa adianta que o custo do projeto-piloto, que permitirá extrair 100 mil barris/dia de lá, é de "menos de US$ 40 o barril". E informa que a Petrobras "trabalha com um colchão tão grande que o custo não é um fator limitante (para o investimento)".

Uma das maiores dúvidas do mercado é sobre o custo de exploração para produzir 1 milhão de barris ao dia em Tupi. Para isso serão necessários mais sondas para perfurar os poços, mais plataformas de produção, mais dutos, árvores de natal (conjunto de válvulas que regula a produção em poços submarinos) e linhas flexíveis, só para citar alguns itens. E para volumes maiores, será necessários transportar o óleo até o continente, distante 300 km.

Barbassa explicou que o plano estratégico continua sendo elaborado mas ainda não está pronto porque precisa incorporar todos os projetos do pré-sal, que é muito grande, o que implica em uma revisão de prioridades da carteira de investimentos. Alguns poderão ser retardados, explica o diretor, que evita comentar sobre mudanças nos planos para o refino, onde a Petrobras planeja investir US$ 43 bilhões na construção de cinco novas refinarias - no Maranhão, Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro.

O diretor da Petrobras lembra que o portfólio de projetos da companhia estava sob pressão de custos e agora que a economia mundial está entrando em recessão isso pode até resultar em alívio nesse ponto, sem afetar o acesso a financiamentos. "Para uma empresa como a nossa, com um conjunto de projetos que é verdadeiramente excepcional e de maturação longa, entre cinco e oito anos, e tempo de produção de vinte a trinta anos, não acho que vai faltar crédito", diz.

Marcelo Bueno, da alemã Schulz, conta que um dos efeitos imediatos da crise foi o aumento do custo financeiro das operações no país. Por isso, a unidade brasileira da Schulz preferiu tomar na Alemanha um empréstimo na modalidade pré-embarque. Foram 20 milhões de euros captados em prazos variando entre 180 dias e 3 anos a uma taxa de 5% a 6% ao ano em dólar ou euro. No Brasil, o dinheiro era caro, custando entre 16% e 17% mais o cupom cambial. "É um custo muito elevado", afirma Bueno.

No câmbio, diz o presidente da Schulz, o que preocupa não é se está alto ou baixo mas "não saber se o dólar custará R$ 1,90 ou R$ 2,50". Bueno também diz que hoje está difícil precificar o custo de produção de alguns aços especiais, principalmente devido ao comportamento dos preços de alguns metais, como o níquel. Segundo Marcelo Bueno, enquanto grandes clientes como a Petrobras e a Braskem não definirem investimentos, a indústria de equipamentos ficará em compasso de espera.