Título: Mercados reagem com apoio a bancos
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Fonte: Valor Econômico, 14/10/2008, Finanças, p. C1

Os mercados de ações exibiram uma forte recuperação no mundo todo, ontem, com os investidores otimistas com as medidas de resgate dos bancos e de estímulo ao descongelamento do crédito, anunciadas em vários países.

Os governos europeus anunciaram um pacote total de 1,873 trilhão de euros, equivalente a US$ 2,546 trilhões, como parte de um plano coordenado para apoiar o sistema financeiro que envolve a capitalização de bancos combalidos e injeção de recursos nos mercados monetários.

O plano de capitalização de US$ 47 bilhões dos bancos ingleses, anunciado na semana passada e detalhado hoje, como parte do pacote de 400 bilhões de libras, inspirou as iniciativas em outras partes da Europa. A Alemanha vai garantir créditos interbancários no valor de 400 bilhões de euros e injetar 100 bilhões de euros nos bancos; a França vai garantir empréstimos interbancários até 320 bilhões de euros e fornecer capital novo aos bancos no total de até 40 bilhões de euros. Áustria, Espanha, Holanda, Itália, Noruega e Portugal somaram esforços comprometendo mais 481 bilhões de euros em capital e garantias.

Os Estados Unidos devem anunciar hoje novas medidas de capitalização dos bancos, que se somam às várias já divulgadas. Desta vez, o governo americano deve comprar ações preferenciais de nove instituições financeiras importantes. O investimento previsto é cerca de US$ 250 bilhões em participações acionárias, dentro do pacote de US$ 700 bilhões aprovado anteriormente pelo Congresso americano. Além disso, a agência garantidora de depósitos, a FDIC, deve estender a cobertura para novos fundos levantados pelos bancos e empresas de poupança por três anos, facilitando a captação de novos recursos. Além disso, o teto de cobertura de US$ 250 mil por depositante deve ser elevado.

O plano foi discutido pelo secretário do Tesouro, Henry Paulson, com um grupo de banqueiros de alto nível, ontem. Acredita-se que participaram Ken Lewis, CEO do Bank of America, Jamie Dimon, CEO do JP Morgan Chase, Lloyd Blankfein, CEO do Goldman Sachs; John Mack, CEO do Morgan Stanley; Vikram Pandit, CEO do Citigroup; e Robert P. Kelly, CEO do Bank of New York Mellon.

O governo brasileiro se inseriu no movimento. O Banco Central anunciou ontem um programa de flexibilização dos recolhimentos compulsórios sobre depósitos a prazo, interfinanceiros e sobre a exigibilidade dos depósitos a vista e a prazo que pode liberar até R$ 100 bilhões. Um primeiro pacote de medidas divulgado ontem libera imediatamente R$ 27,1 bilhões. Somado a iniciativas anteriores, o total devolvido ao mercado chega a R$ 87 bilhões

A Bolsa de Valores de São Paulo fechou em alta acentuada de 14,66%, na máxima do dia. É a maior valorização percentual do Ibovespa desde 15 de janeiro de 1999 - dia em que o governo deixou o câmbio flutuar e houve a forte desvalorização do real em relação ao dólar e a bolsa disparou disparou 33,40%.

O dólar, mesmo sem a atuação do BC no mercado a vista, despencou 7,30% para fechar a R$ 2,1450. O dólar teria caído mais não fosse uma limitação técnica: durante a maior parte do dia, a cotação permaneceu no mercado à vista em baixa de 6% porque este era o limite técnico de queda definido pela BM&F para o mercado futuro. A bolsa só elevou o limite máximo de queda para os contratos de dólar para 8% quando faltavam poucos minutos para o fechamento.

A Bolsa de Nova York teve a maior alta em um único dia em pontos da história, ao fechar com elevação de 936,42 pontos, ou 11,1% para 9.387,61 pontos, uma escalada que encerrou uma sequência de oito dias seguidos de baixa em que o índice Dow Jones perdeu quase 2,4 mil pontos. Em Londres, o índice FTSE 100 teve alta de 8,3%, a segunda maior alta em um único dia. Em Frankfurt, a alta do índice Dax foi de 11,4% e em Paris, de 11,2%. O índice FTSEurofirst 300 registrou avanço de 10,12%, para 937,41 pontos, seu maior ganho em um único dia já registrado, mais que sua queda de 7,6% na sexta-feira, a maior em cinco anos. As ações de empresas da área financeira lideraram os ganhos.

O índice Hang Seng, de Hong Kong, disparou 10,24%, depois de ter perdido 16,2% na última semana. O mercado de ações do Japão e de títulos do Tesouro americano não operaram em virtude de feriados locais. O mercado de Seul subiu 3,79%. Xangai avançou 3,65%, Taiwan recuou 2,15% e Cingapura disparou 6,57%.

Entretanto, o iene permaneceu firme ante o dólar e o ouro também se valorizou, ressaltando a precaução do investidor e pouca disposição para fazer investimentos arriscados no momento, especialmente com mercados de crédito funcionando de forma fraca.

O otimismo voltou hoje ao mercado asiático. A bolsa de Tóquio começou o dia em alta e, com uma hora de funcionamento, já subia cerca de 9,5%, no encerramento desta edição. O governo japonês anunciou na manhã de hoje (hora local) medidas para apoiar e estabilizar o mercado de valores, que incluem a redução das restrições às companhias para a recompra das próprias ações.