Título: Bolsa dispara nos EUA mas fim da crise é incerto
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Fonte: Valor Econômico, 14/10/2008, The Wall Street Journal Americas, p. C3

O baixo astral da semana passada transformou-se em euforia enquanto investidores elevavam a Média Industrial Dow Jones em 11%, o maior ganho de um dia do índice desde 1933. Foi o quinto maior ganho porcentual da história e logo na seqüência de uma queda semanal de 18%, a pior dos 112 anos da Dow.

A mudança brusca de ânimos, deflagrada por planos de governos em todo o mundo para resgatar bancos via injeção direta de capital, levou investidores a debater se era o fim de uma assustadora fase de baixas das ações, ou só um alívio temporário.

A história tem registros diversos de altas memoráveis como a de ontem. Das cinco altas anteriores de 10% ou mais em um dia, duas marcaram o fim de períodos de baixa, conhecidos como "mercado urso", em 1987 e 1933. Os outros três - em 1929, 1931 e 1932 - se mostraram alívios temporários, apenas, e foram seguidos por novas quedas.

"Ainda não dá para saber se o mercado urso acabou, mas sabemos, sim, sobre o médio prazo", disse Phil Roth, analista da corretora de Wall Street Miller Tabak + Co. "É uma grande limpeza, então vamos ter alguma recuperação agora."

"As pessoas podem dizer: "Ufa, sobrevivemos à crise financeira." Mas aí temos a questão da recessão, e não sabemos sua profundidade", diz ele.

A Dow subiu 936,42 pontos, para 9.387,61, o maior ganho de sua história em pontos. A sessão de ontem encerrou a série de oito pregões consecutivos de queda e eliminou quase todas as perdas que o índice de ações "blue chips" teve nos três dias anteriores de negociações. Ele fechou só um pouco abaixo de onde fechou terça-feira.

Mesmo assim, a Dow continua 34% abaixo de seu recorde de 14.164.53 pontos, atingido em 9 de outubro de 2007, e com baixa de 13% só em outubro. Está, no momento, em um nível alcançado pela primeira vez em janeiro de 1999.

Para descobrir qual o significado dos acontecimentos desse dia, veteranos de Wall Street tiveram que pesquisar em seus livros de história. Durante a maior parte do pregão, parecia que se tratava a maior alta já registrada em um só dia, desde de 21 de outubro de 1987 - logo depois do crash. Mas depois de uma acelerada de 300 pontos no final do pregão, a alta de ontem ultrapassou a de 1987.

Alguns chamaram a atenção para o fato de que o forte movimento de compras aconteceu no feriado americano de Cristóvão Colombo, quando os principais mercados de títulos de renda fixa estavam fechados. Isso significa que os investidores não podiam ter uma idéia clara de que modo a alta afetaria os títulos de dívidas, que vêm sendo responsáveis por boa parte da crise atual.

Os investidores receberam mais boas notícias depois do pregão. Surgiu a informação de que o plano do governo americano incluiria um investimento de cerca de US$ 250 bilhões em bancos, dando garantias para títulos de dívida dos bancos, e um aumento o seguro para certos tipos de depósitos, segundo pessoas a par dos planos. Planos de resgate anunciados pela manhã na Europa ajudaram a levantar as bolsas.

Também surgiram alguns indícios de alívio no mercado de renda fixa.

Investidores em títulos de dívida reagiram vendendo títulos de curto prazo ultra seguros, revertendo a fuga para a relativa segurança dos papéis de governos, que já durava semanas. Títulos do governo alemão com vencimento em dois anos, por exemplo, foram vendidos e caíram em preço, o que aumentou seu rendimento em 0,13 ponto porcentual, para 3,18%.

O mercado de futuros dos EUA, em que os investidores apostam em títulos do Tesouro americano, estava aberto ontem, apesar de o mercado principal desses papéis estar fechado. As operações sugeriam que os investidores antevêem para hoje um declínio parecido no preço, e uma correspondente alta no rendimento, dos títulos do Tesouro com curto e longo prazos. O preço de um futuro de títulos do Tesouro com vencimento em dez anos caiu para o nível mais baixo desde o início de agosto, segundo a Optima Investment Research.

Também surgiram sinais de que os temores dos bancos para emprestar uns aos outros começou a diminuir. O custo dos futuros relacionados ao juro de mercado cobrado pelos bancos para essas operações - a Libor, ou taxa do interbancário de Londres - sugeria que os operadores acreditam numa queda da Libor. A versão dela para empréstimos interbancários de três meses em libra esterlina caiu levemente ontem, sugerindo que outras versões para empréstimos em dólar podem cair hoje.

Durante a queda na semana passada o mercado fraquejou na última hora de pregão em quase todos os dias. Mas ontem as bolsas aceleraram no fim do dia. Joseph Saluzzi, co-diretor de trading da Themis Trading, diz que alguns investidores assistiram o dia todo à alta do mercado, na esperança de um declínio súbito que os permitisse comprar mais barato. Mas como isso não acontecia, ficaram com medo de perder a onda e correram para comprar.

Além disso, alguns investidores institucionais importantes, como fundos de índices, só negociam no fim do dia, o que pode causar exageros perto do fim do pregão.

(Colaboraram Liz Rappaport, Diya Gullapalli, David Gaffen e Mark Gongloff