Título: Interbancário de US$ 25 tri é razão de resgate europeu
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 14/10/2008, Finanças, p. C5

As garantias dadas pelos governos europeus a seus bancos devem relançar o mercado interbancário de US$ 25 trilhões globalmente, que é o credito que os bancos fazem entre si, acreditam autoridades internacionais. Christophe Ena / AP Photo O presidente da França, Nicolas Sarkozy, um dos líderes do movimento de resgate aos bancos: medidas visam a retomada do crédito no mercado europeu

O mercado interbancário duplicou entre 2005-2008, sendo essencial para o bom funcionamento da economia, mas estava quase paralisado com a desconfiança que se propagou nos mercados nas ultimas semanas.

Os bancos têm necessidades diárias de dinheiro novo para cobrir seus compromissos no prazo, e que satisfazem normalmente entre eles.

Só que recentemente coube aos bancos centrais assumir o papel não mais de ultimo emprestador, mas de único emprestador, para fornecer a liquidez necessária no auge da dramática crise financeira.

Agora, do pacote de 1,8 trilhão de euros anunciados por governos europeus, a grande parte é justamente garantia dos empréstimos interbancários. No caso do pacote francês, sao 320 bilhões de euros desse tipo de garantia e 40 bilhões de euros para recapitalizar bancos em dificuldades.

"É para reativar a pompa de crédito e não a alimentar uma tesourização por precaução", afirmou o presidente da Franca, Nicolas Sarkozy.

Para experimentadas autoridades, as garantias podem significar a multiplicação dos financiamentos entre os bancos, enfim voltando a irrigar o sistema financeiro que o Fundo Monetário Internacional (FMI) no sábado alertava estar ameaçado de "derretimento".

Pascal Lamy, diretor-geral da Organização Mundial do Comercio (OMC) e ex-banqueiro, disse ao Valor que "tudo que tem sido feito para descongelar (o mercado interbancário) pode ajudar no financiamento ao comércio".

Os bancos tinham dinheiro para financiar o comércio exterior, mas aumentaram enormemente a fatura para os produtores, levando o Brasil a acionar a OMC para pressionar os bancos a atenuarem a situação.

Outro ex-banqueiro francês, Jean Peyrelevade, considera que o credito voltará rapidamente para a economia real, só que mais caro que antes da crise e sobretudo mais seletivo.

Uma das questões na Europa ontem era se os governos ganharam com seus pacotes. Para o analista suíço Francois Savary, o mercado mostrou que gostou das medidas - e que as considerou consistentes.

Certos analistas preferem acreditar que a semana passada foi o pico da crise, mas que restam ainda sobressaltos, incluindo as conseqüências da crise sobre a economia real.

Outros analistas alertam que a recapitalização e garantia de interbancário vão aumentar a divida dos governos numa situação orçamentária precária diante da desaceleração da economia, mas também admitem que essa foi a melhor solução.

Para outros economistas, só dentro de um a dois anos é que o serviço das divida, agora maior, vai pesar. A Bélgica salvou os bancos Dexia e Fortis recorrendo a empréstimos de 12,9 bilhões de euros, que, segundo analistas, vai provocar um custo anual de juros de 500 milhões de euros.

Em todo caso, os planos de socorro não sao forçosamente um negocio ruim para os governos, avalia Nicolas Veron, economista do instituto Bruegel, em Bruxelas.

Os países terão novos ativos, e poderão obter dividendos ou mais valia para revenderem quando o mercado voltar a subir.

Resta que o governo sueco continua a ser acionista do Nordea, o maior banco do país, ou seja, o socorro deve vigorar por um longo período.