Título: Lula elogia Brown e quer mudar FMI
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 15/10/2008, Brasil, p. A5

Depois dos primeiros resultados positivos na coordenação dos Bancos Centrais mundiais para enfrentar a crise financeira internacional, a Inglaterra quer reunir líderes de vários países, entre eles o Brasil, para encontrar uma resposta conjunta à ameaça de recessão e ao pânico nos mercados, segundo informou o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, ao convidar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o encontro. Lula ligou ontem para Brown para parabenizá-lo pela liderança demonstrada ao iniciar a intervenção estatal nos bancos da Inglaterra que desencadeou medidas semelhantes em todo o mundo. Ricardo Stuckert Lula é recepcionado na chegada a Nova Déli: presidente participará de reunião de cúpula Índia-Brasil-África do Sul

O telefonema de Lula foi feito ao chegar a Nova Déli, para a reunião de cúpula Índia-Brasil-África do Sul. Segundo relato do assessor internacional da presidência, Marco Aurélio Garcia, Lula defendeu, com Brown, a criação de uma "nova arquitetura financeira mundial", e teve a proposta bem recebida pelo mandatário britânico. "Ele concordou e disse que é preciso mexer nisso (no sistema atual, supervisionado pelo Fundo Monetário Internacional)", comentou Garcia.

Lula, segundo o assessor internacional, ficou satisfeito ao ser informado das medidas tomadas pelo governo para combater a crise, que, na Índia, derrubou as bolsas de valores, provocou uma fuga de capital próxima a US$ 8 bilhões e obrigou o governo a intervir, reduzindo os depósitos compulsórios mantidos no Banco Central. "As políticas econômicas que o governo da Índia está tomando são muito parecidas com a que estamos adotando", comentou Garcia, para quem o setor real da economia não sofreu contágio do tumulto nos mercados financeiros, a não ser nos casos de "especuladores" do mercado de câmbio.

"O governo não vai deixar ninguém desassistido, mas não vai passar a mão na cabeça de ninguém", comentou, ao confirmar que chega próximo a 200 o número de empresas privadas que tiveram forte prejuízo com operações financeiras apostando na manutenção da desvalorização do dólar frente ao real. O governo brasileiro, que já interveio no mercado de dólar para evitar a excessiva valorização da moeda estrangeira e aumentou o dinheiro disponível pelos bancos para crédito do setor privado, vai tomar "todas as medidas legais, com todas as garantias de que o governo será remunerado de forma adequada", disse Garcia.

Lula, ao chegar à Índia, evitou falar aos jornalistas, alegando que teria, primeiro, de telefonar para o ministro da Fazenda, Guido Mantega e para o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, para informar-se do comportamento dos mercados. E recebeu de Mantega as boas notícias. "Até a semana passada o governo tomava medidas e elas não inspiravam confiança, era um saco sem fundo", desabafou o assessor presidencial.

A expectativa do governo em relação ao mercado de câmbio é a de que o dólar se desvalorize em relação ao pico de quase R$ 2,50 atingido na semana passada, mas se estabilize "em um patamar aceitável", acima da cotação de antes da crise, segundo Garcia.

Lula tomou a decisão de telefonar a Gordon Brown por acreditar que a liderança do inglês foi fundamental para orientar os outros governos e estabelecer um rumo para retomar a confiança dos mercados. "O prestígio de Brown subiu muito", avaliou Garcia, comentando que, até o início da semana, o primeiro-ministro britânico havia ficado em segundo plano no cenário mundial, com dificuldades políticas internas que o obrigaram até a convocar para o gabinete o então comissário europeu de Comércio, Peter Mandelson, seu rival no partido Trabalhista.

Lula deverá aproveitar o discurso na cúpula Índia-Brasil-África do Sul para defender a ação conjunta dos países emergentes em favor de mudanças na estrutura de órgãos como o Fundo Monetário Internacional. Deverá também defender que a concretização da Rodada Doha, de redução de tarifas e subsídios que distorcem o comércio, é fundamental para superar a crise. Lula decidiu voltar atrás na idéia de faltar à reunião de cúpula Íbero-Americana, que se realizará em El salvador, no fim deste mês, e irá a San Salvador para sugerir uma resposta conjunta á crise.

O repórter viajou a convite da Índia Brand Equity Foundation (IBEF)