Título: Crise faz comércio global crescer menos
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Fonte: Valor Econômico, 15/10/2008, Internacional, p. A9

O crescimento do comércio internacional deve ficar pelo menos 1 ponto abaixo das estimativas feitas por organizações internacionais em junho, refletindo o impacto da dramática crise financeira.

A queda do fluxo de comércio deve ser mais acentuada em 2009, diante de desaceleração econômica mais forte na Europa e porque economias emergentes, que devem sustentar o crescimento, também estão sendo duramente afetadas pela crise.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta agora expansão de 5,2% no comércio global de mercadorias este ano, 1 ponto a menos do que a estimativa feita antes do auge da crise. Para 2009, aposta em taxa de 4,4%, 1,9 ponto a menos que a previsão anterior, o que representa dezenas de bilhões de dólares a menos de comércio.

A Organização Mundial do Comércio (OMC) está revendo sua estimativa de crescimento de 4,5% no comércio de mercadorias este ano. A tendência conduz igualmente para uma baixa de pelo menos 1,2 ponto. Espera-se redução maior de exportações no quarto trimestre. A queda deve ser maior no comércio internacional de serviços, onde as estatísticas de todo modo são bem menos confiáveis.

Economistas das principais organizações internacionais admitem estar "desorientados pela evolução do mercado", sobretudo em relação à montanha russa dos preços das commodities.

A expectativa era que as turbulências financeiras afetariam menos a economia real na Europa, que é o principal parceiro comercial do Brasil. Os principais governos europeus reagiram a crise financeira com pacotes bilionários para salvar os bancos, mas analistas concordam que chegam tarde demais para evitar uma recessão.

A Alemanha, o principal motor do velho continente, está a beira da recessão, de acordo com um relatório publicado ontem pelos principais institutos de conjuntura econômica do país. Eles apostam em crescimento de apenas 0,2% do PIB no ano que vem, contra 1,8% este ano.

O cenário de crise dos institutos leva em conta uma recessão mundial (crescimento abaixo de 2,5%), custos de refinanciamento elevados por causa da crise e queda no consumo doméstico.

Entre os emergentes, a China reduziu as importações pelo segundo mês consecutivo, o que sinaliza menor apetite por commodities. Pequim tinha aumentado as importações de petróleo em 11% de janeiro a agosto, em meio a alta recorde do barril.

O Paquistão está na lista de nações quase falidas. E a Coréia do Sul viu sua moeda recuar 29% em relação ao dólar desde o começo do ano, mas seu principal mercado, os EUA, estão comprando menos.