Título: Odebrecht se prepara para deixar o Equador
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 15/10/2008, Internacional, p. A9

O Brasil reagirá a ações do Equador contra interesses de empresas e cidadãos brasileiros com "paciência, mas sem complacência", comentou ontem o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim. Incomodado com a "retórica" adotada pelo governo do Equador, que tem transformado a disputa com empresas privadas em tema de fortes implicações políticas, Amorim defendeu que a melhor resposta do governo brasileiro a medidas arbitrárias do Equador é mostrar que essas iniciativas prejudicam o "clima de cooperação" entre os dois países.

Amorim disse não acreditar na concretização da ameaça do governo equatoriano de cancelar o pagamento do financiamento do BNDES à construção da usina San Antonio porque, na prática, isso significaria o fim das relações comerciais entre Brasil e Equador. "Então, vai acabar o comércio entre Brasil e Equador porque o empréstimo é lastreado no CCR (Convênio de Crédito Recíproco)", argumentou o ministro, lembrando que o crédito concedido pelo BNDES tem garantias soberanas, do Banco Central equatoriano.

"Se houve irregularidade, o que não posso julgar, não foi o BNDES que praticou, deve haver outros meios (de resolver o problema)", disse o chanceler brasileiro.

Amorim comentava a declaração do Secretário Nacional Anticorrupção do Equador, Alfredo Vera, que anunciou a decisão do governo local de não pagar o empréstimo do BNDES para a construção da usina San Francisco, paralisada por problemas estruturais. A usina foi construída pela Odebrecht, sob fiscalização de um consórcio do qual participou Furnas.

Na semana passada, após a decisão equatoriana de expulsar do país a Odebrecht e Furnas, e de ameaçar confisco dos investimentos feitos pela Petrobras no país, o governo brasileiro suspendeu a missão que seria chefiada pelo ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, para discutir um projeto de grande interesse do presidente equatoriano, Rafael Correa, o corredor viário Manta-Manaus, que colocaria o Equador no eixo de uma ligação entre os oceanos Pacífico e Atlântico.

A construtora Norberto Odebrecht informou ontem que já está trabalhando na desmobilização e entrega das obras no Equador, segundo informou a assessoria da empresa em Quito. Os diretores da empresa que tiveram os seus vistos cassados pelo governo do Equador, Fabio Andreani Gandolfo, Fernando Bessa, Luiz Antonio Mameri e Eduardo Gedeon, também já se preparam para voltar ao Brasil.

"A mim, interessava que os funcionários brasileiros fossem liberados. Se ele [Correa] quer chamar a liberação de expulsão, para que eles possam sair nesse momento do país, não importa", reagiu Amorim, após hesitar em comentar o assunto com jornalistas. "Para o governo brasileiro, quanto mais perguntam sobre isso, mais dificulta resolver o problema", argumentou o ministro. "A tentação da retórica é muito grande: um diz uma coisa, outro se sente na obrigação de responder."

"Tem muito ministro falando; e quando tem muita gente falando dá cacofonia", comentou o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, endossando o comentário de Amorim. "A melhor coisa é o contato direto dos presidentes", defendeu. "Nem devia dizer isso, mas tem muita gente falando, e quando tem muita gente falando, cada um até quer falar mais alto porque dá dividendos", concordou Amorim. "Eu não quero falar mais alto ou mais baixo, só encontrar uma solução."