Título: Obama se distancia de John McCain na reta final
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Fonte: Valor Econômico, 15/10/2008, Opinião, p. A10

O candidato democrata Barack Obama começou a se distanciar na dianteira do republicano John McCain, na reta final das eleições presidenciais de 4 de novembro. A mais surpreendente disputa presidencial americana pode bem reservar novas guinadas, mas, salvo algum erro trágico, Obama será o próximo morador da Casa Branca.

Em nenhum momento da campanha McCain chegou a ter uma confortável margem à frente de seu oponente. Seu melhor momento foi após a convenção do partido que o consagrou oficialmente como candidato. A escolha de uma mulher, a governadora do Arizona, Sarah Palin - um aparente golpe de mestre, porque os democratas tinham acabado de rejeitar uma, Hillary Clinton -, ajudou a aumentar por um breve período as chances de McCain. Palin revelou-se depois um problema, por suas sucessivas gafes, e a campanha republicana perdeu o rumo diante da consistente ascensão de Obama nas pesquisas.

Dois debates entre os candidatos - hoje será o último da campanha - não melhoraram as coisas para McCain. No primeiro, Obama mostrou-se cauteloso e distante em demasia diante de um republicano na ofensiva nos temas de política externa. A esse quase primeiro empate técnico seguiu-se novo debate em que Obama foi melhor que seu adversário, um McCain monocórdico que repetia sem parar que será a melhor opção para dirigir o país em caso de ameaça externa.

O grande problema de McCain é que a maior ameaça do momento é interna - a desagregação do sistema financeiro e de crédito. McCain passou a lutar, sem uma estratégia clara, contra um inimigo até mais poderoso que Obama: o péssimo legado de Bush na economia. À medida que a economia americana foi tragada pelos duros golpes da virtual falência de todo o seu sistema financeiro e a insegurança se instalou no país, fatias cada vez maiores do eleitorado passaram a jogar na conta dos republicanos a fatura da crise financeira, a maior desde a Grande Depressão.

Essa situação desfavorável poderia ser revertida se McCain tivesse se desvencilhado da defesa do governo Bush, algo que ele não pode fazer porque precisa do apoio de um reticente partido, que duvidava de suas credenciais de conservador. McCain tenta mostrar-se como candidato da mudança, mas seu programa econômico precisaria fazer a diferença, o que não é o caso, e ele teria de demarcar claramente sua distância de Bush, com críticas às principais falhas de sua administração. McCain perdeu-se a meio caminho e deu alguma razão às suas próprias tiradas - entre elas, a de que não entendia bem de economia.

Os eleitores sabem que o próximo presidente terá de pilotar uma crise de grandes proporções e Obama tem conseguido mostrar que teria mais competência para lidar com ela. Não que se conheça inteiramente seu programa, ou o que dele foi apresentado seja impecável. Durante a semana que antecedeu o pacote inédito de US$ 700 bilhões para salvar os bancos americanos, o democrata nada apresentou de substancialmente diferente, enquanto McCain sequer tinha algo a dizer sobre o assunto.

Enquanto McCain busca algo parecido com um programa econômico, Obama detalhou um pouco mais o seu nos últimos dias. Ambos, porém, ampliam o déficit público americano, já escancarado pelos gastos militares e o corte de impostos de Bush, que McCain pretende perpetuar, e pelos gigantescos gastos que deverão ocorrer para reerguer o sistema financeiro. A economia deve entrar em recessão, o que derrubará receitas, mas ambos os candidatos não parecem estar preocupados com a situação das contas públicas.

Obama propôs ajuda para todos, o que politicamente pode até fazer sentido, diante da magnitude da ajuda que será destinada aos banqueiros. É justo que mutuários tenham moratória de despejo dos bancos que recebem do dinheiro do contribuinte para sobreviver. Obama pretende que o governo federal dê dinheiro a prefeituras e Estados para que eles concedam incentivos a empresas que contratarem mão-de-obra. Como fazer isto cortando impostos é uma questão difícil de resolver. A conta fiscal não fecha nas propostas dos dois candidatos. Entretanto, Obama mostra mais sensibilidade às agruras dos cidadãos diante da crise, enquanto McCain perde a iniciativa neste terreno crucial.