Título: Acordo tenta acelerar obras de gasodutos
Autor: Goulart, Josette
Fonte: Valor Econômico, 15/10/2008, Empresas, p. B8

A capacidade de expansão de parte das indústrias de São Paulo tem esbarrado, entre outros fatores, na oferta do gás natural para o Estado. Parte desse problema é ocasionado pela falta de gasodutos. Somente a Comgás, uma das três distribuidoras paulistas, tem pedidos em carteira para um incremento de consumo de 3 milhões de m3 por dia a partir de 2010, mas a empresa não fecha novos contratos porque não tem a garantia de que esse gás estará na rede. Além disso, ela precisa atender um crescimento vegetativo anual da ordem de 500 mil m3 por dia. Para atender esses picos de consumo, a empresa está negociando um contrato de curto prazo com a Petrobras. Pisco Del Gaiso/Fotosite/Valor Zevi Kann, da agência reguladora de São Paulo, diz que destinação do gás deve ser decisão tomada fora da Petrobras

Ontem, no 9º Encontro de Negócios de Energia, promovido pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), o gerente-executivo da Petrobras, André Cordeiro, mostrou um panorama das obras de três gasodutos fundamentais para o suprimento do estado com gás proveniente do Espírito Santo e da Bacia de Santos. Os projetos precisam de uma série de anuências e licenças, por parte de órgãos ambientais, até outubro de 2009. Para tentar resolver essa questão, a empresa e o governo do Estado firmaram, na semana passada, protocolo de intenções. Eles pretendem unir esforços para aprovar os licenciamentos e obter as anuências, e com isso garantir a oferta adicional de até 5 milhões m3 por dia a partir de 2010.

Entre os projetos, o principal deles é o Gastau, que liga as cidades de Caraguatatuba e Taubaté e vai escoar a produção de Mexilhão, na Bacia de Santos. A obra depende da construção de um túnel de cinco quilômetros para que o gás possa subir a serra. Se todos os licenciamentos forem aprovados, a operação começa em outubro de 2010. Como está previsto que a plataforma de Caraguatatuba fique pronta em abril do mesmo ano, a empresa tenta uma manobra para que possa injetar os 5 milhões de m3 já nessa mesma época.

O diretor vice-presidente do mercado de grandes consumidores da Comgás, Sérgio Luiz da Silva, disse no evento que o período de restrição de oferta de gás teve início em 2006 e deve ir até 2011. Nesse intervalo, portanto, a estratégia da empresa é ligar consumidores residenciais à rede. A empresa, privatizada em 1999 e adquirida pelo Grupo BG e pela Shell, tem hoje 750 mil clientes residenciais e espera chegar a um milhão até 2010. O potencial de residências na área de concessão da empresa chega a 7 milhões de residências.

O gás distribuído pela empresa é oriundo principalmente da Petrobras e a maior parte, 75%, vem da Bolívia. Todo o potencial boliviano de fornecimento, de 30 milhões de m3 por dia, já está sendo usado, o que significa que para aumentar a oferta é preciso ampliar a rede. Silva diz que a Comgás tem um contrato de preferência com a Petrobras para receber o gás de Mexilhão.

Além disso, a empresa tenta agora negociar um suprimento extra de curto prazo para o ano que vem, quando terá picos de consumo de até 500 mil m3 por dia, porém ainda não tem esse gás contratado. Até dezembro, as duas empresas devem fechar um contrato. Segundo Silva, o preço desse gás certamente será mais alto, já que a Petrobras terá de usar o insumo que enviaria para alguma termelétrica da empresa. As termelétricas consumiram neste ano um total de 15 milhões de m3 por dia, enquanto a indústria usou cerca de 30 milhões m3.

O superintendente da Associação Brasileira da Indústria do Vidro, Lucien Belmonte, criticou o fato de o Brasil possuir um só fornecedor de gás, o que em sua opinião gera distorções no preço. De qualquer forma, existe uma tendência de alta no preço do insumo, já que para garantir a oferta a Petrobras terá que importar gás natural liquefeito (GNL) que é mais caro. Para tentar minimizar impactos, a empresa espera usar o GNL em termelétricas. Se 100% delas forem despachadas até 2012, estima-se um consumo de 48 milhões de m3. Mas, em média, elas vão precisar de 30% desse valor, segundo André Cordeiro. "É importante usar GNL nessas térmicas porque o produto é importado e basta interromper a importação caso as usinas não sejam despachadas."