Título: Com a crise, fabricantes esperam alta de pelo menos 7% na demanda
Autor: Ribeiro, Ivo
Fonte: Valor Econômico, 15/10/2008, Empresas, p. B9

O cenário de incerteza ainda paira sobre a indústria siderúrgica brasileira. Nesse momento, a expectativa é que a demanda por aço no Brasil cresça pelo menos 7% no próximo ano. É um tranco para quem prevê fechar este ano em 12%, depois de crescer bem acima disso em 2007, mas não chega a ser um mau negócio. "Em 2009, mesmo em um quadro recessivo do PIB ainda poderemos ter expansão da demanda no país", disse ontem, em São Paulo, Flávio Roberto Silva de Azevedo, presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), para quem a economia brasileira poderá assegurar alta de 3,5%.

O dirigente afirmou que os principais setores consumidores de aço, como automotivo, construção civil, máquinas e equipamentos e indústria petrolífera, ainda não deram sinais de arrefecimento. E negou que haja parada nas usinas ou cortes de produção no que se refere a aço destinado ao mercado interno. "O que há são algumas acomodações de produção, como antecipação de paradas para manutenção já previstas".

José Armando de Figueiredo Campos, presidente da ArcelorMittal Brasil e membro da diretoria do IBS, confirmou o corte na produção de placas para exportação da ArcelorMittal Tubarão, ex-CST, mas não confirmou o índice de 20% publicado pelo Valor. "Não é esse percentual e ainda estamos avaliando de quanto será", afirmou o executivo, dizendo que o programa de expansão da usina continua em ritmo normal. "Vamos concluir a ampliação da unidade de laminados a quente em fevereiro ou março e a nova linha de aço galvanizado em Santa Catarina. São projetos estratégicos e com visão de longo prazo", observou.

Azevedo lembrou que no Brasil há muitos projetos de infra-estrutura em curso, como os do PAC (programa do governo federal) e de exploração de petróleo nos campos do pré-sal, que vão demandar bastante aço. Segundo o dirigente, diante do atual cenário, é uma boa oportunidade para o Banco Central iniciar um movimento de queda na taxa básica de juros, a Selic, que está em 13, 75%. "Se houvesse uma redução de meio ponto na próxima reunião do Copom [marcada para o fim deste mês] seria um bom sinal para a economia do país", afirmou.

O consumo de aço no país, neste ano, está previsto para quase 25 milhões de toneladas. Deve desacelerar. A produção de aço bruto fica ligeiramente abaixo da projeção de 36,8 milhões de toneladas.

Até o momento, segundo Azevedo, nenhum dos projetos novos ou de expansão, em andamento ou previstos para o país, foi suspenso ou adiado. São vários planos, alguns na fase de terraplanagem e obras civis, outros em montagem adiantada e alguns na fase de engenharia e cotação de equipamentos. "Não há problemas de recursos, pois as empresas dispõem de caixa e há financiamento do BNDES", disse.

A carteira de projetos informados ao IBS, para até 2013, está dividida em três tipos: das usinas existentes, que adicionariam 18,9 milhões de toneladas sobre a atual capacidade de 41 milhões de toneladas; novos entrantes, com mais 6,8 milhões; e projetos em estudos, com mais 16,5 milhões. Especialistas do setor põe dúvidas sobre viabilidade de alguns deles, tanto do primeiro quanto do último caso.