Título: Mesmo sem crédito, empresas contrataram mais
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 16/10/2008, Brasil, p. A3

A criação de empregos com carteira assinada passou a marca dos dois milhões de vagas neste ano e bateu os recordes para meses de setembro e para o período janeiro-setembro. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), setembro teve, entre contratações e demissões, saldo de 282.841 postos de trabalho. Na comparação com setembro de 2007, o crescimento foi de 12,6%. Em nove meses, foram criadas 2,086 milhões de vagas, indicando um aumento de 29,84% em relação ao total de vagas geradas no mesmo período do ano passado foi de 29,84%.

Em setembro, enquanto as empresas enfrentavam crise de liquidez e falta de crédito - situação que levou empresas de algumas indústrias muito afetadas pelo câmbio à suspensão das vendas para o comércio pela dificuldade de formação de preços - todos os setores continuaram contratando. O saldo de novos empregos gerados no mês foi de 114 mil na indústria, 32,8 mil n construção civil, 53 mil no comércio e 104 mil em serviços. O único setor com demissões foi a agricultura, por motivos sazonais. Na indústria, apenas o setor de fumo registrou mais demissões que aquisições em setembro, com saldo negativo de 54 empregos fechados. Mesmo os setores fortemente exportadores, como calçados e têxteis, aumentaram as contratações no mês passado.

Na avaliação do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, o Natal será muito forte na criação de empregos e nas vendas, "apesar da crise dos americanos". Ele avaliou que o Banco Central (BC) vem enfrentando muito bem a crise financeira global e o impacto negativo sobre o emprego será muito pequeno e restrito aos setores exportador e agrícola, provavelmente no segundo semestre de 2009.

Para este ano, o ministro reafirmou que o Caged terá saldo acima de 2,1 milhões de empregos, o que significa recorde histórico. Para o ano que vem, a perspectiva é de desaceleração no ritmo de geração de postos de trabalho, com criação de 1,8 milhão de empregos no regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

De janeiro a setembro, os setores que mais criaram empregos com carteira assinada foram: serviços (689,9 mil, indústria de transformação (523,9 mil), construção civil (300,8 mil), comércio (264,8 mil), agricultura (241,6 mil) e administração pública (41,8 mil). Lupi disse que a construção civil seguirá forte em 2009 porque não faltarão recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para financiar habitação e saneamento.

No setor de serviços, os dois segmentos mais dinâmicos nesses nove meses foram os de comércio, administração de imóveis e alojamentos e alimentação. Nesse período, as indústrias que mais criaram empregos com carteira assinada foram as de alimentos (175 mil), metalurgia (58,5 mil), mecânica (45,5 mil), materiais de transporte (42,6 mil) e calçados (33,1 mil).

A análise regional dos números do Caged, de janeiro a setembro, mostra que o Sudeste teve, mais uma vez, o melhor desempenho: 1,2 milhão de postos de trabalho gerados. Em seguida, vêm Sul (345,1 mil), Nordeste (227,9 mil), Centro-Oeste (182,8 mil) e Norte (67 mil).

Lupi, apesar da crise financeira global e de um dia de forte queda na Bovespa, manteve seu discurso otimista sobre a perspectiva da economia brasileira. Disse que os especuladores são os que mais estão perdendo, mas o Brasil não terá dificuldade em atrair investidores porque tem um sistema financeiro sólido, crescimento diversificado e um dos menores riscos do mundo.

Ele comentou que a possibilidade de algumas empresas anunciarem que estão desistindo de recentes aquisições não significa que a produção está caindo ou que a economia real está perdendo força. "A crise afeta a captação de recursos no exterior para investimentos, mas isso está sendo resolvido pelo Banco Central. A valorização do dólar ajuda as exportações", avaliou.