Título: PT antecipa-se ao PMDB e lança Tião Viana para presidência do Senado
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 16/10/2008, Política, p. A8

A demora do PMDB em admitir publicamente a possibilidade de ceder ao PT a presidência do Senado no biênio 2009-2010 levou o PT e a líder do Bloco de Apoio ao Governo (PT, PR, PSB, PCdoB, PRB, PP), Ideli Salvatti (PT-SC), a anteciparem a campanha pela eleição do senador Tião Viana (PT-AC), prevista para ser deslanchada depois do segundo turno das eleições municipais.

Nos últimos dias, Ideli deslanchou conversas com lideranças do PMDB e dos partidos do bloco. Ao mesmo tempo, o próprio candidato, atual primeiro vice-presidente do Senado, intensificou a investida sobre os colegas, principalmente do PMDB e da oposição, em busca de apoio. "Estou procurando todo mundo. A eleição não pode ser uma luta entre governo e oposição. Acho melhor um entendimento para formar uma Mesa Diretora que represente o Senado", afirmou Viana.

A eleição de um petista provocaria redistribuição dos espaços políticos do Senado, com o PMDB ocupando a primeira vice-presidência e voltando a comandar pelo menos uma das duas comissões mais importantes da Casa: a de Assuntos Econômicos (CAE) e a de Constituição e Justiça. "Nossa avaliação é que a candidatura do Tião está bem encaminhada com o PMDB. Mas tem um ritual a ser cumprido", diz a líder. O PMDB teria direito a indicar o presidente do Senado por ter a maior bancada (21), mas pode abrir mão da prerrogativa em um acordo com os demais partidos. O candidato, ainda que indicado pela maior bancada, precisa ser eleito pelo plenário.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou claro a lideranças pemedebistas, em jantar na semana passada, que a base aliada na Câmara está orientada a votar no deputado Michel Temer (PMDB-SP) para presidente da Câmara. Em troca, pediu o apoio do PMDB à eleição de Viana para suceder Garibaldi Alves (PMDB-RN) na Presidência do Senado.

Um PMDB fortíssimo, comandando as duas Casas do Congresso na sucessão de Lula não interessa ao PT. Os petistas defendem equilíbrio de forças entre os dois maiores partidos da base governista, com PMDB presidindo a Câmara e o PT, o Senado. Para Lula, interessa manter a aliança com o PMDB forte até sua sucessão em 2010.

"As urnas nos apontaram para o jogo: se quisermos ter uma sucessão tranqüila, tem que ser com PT e PMDB juntos", disse Ideli. A divisão do poder no Congresso seria importante para manter a harmonia entre os aliados.

No jantar, os pemedebistas não garantiram apoio antecipado a Viana. Afirmaram que o processo no Senado exige mais negociação com a oposição, já que a maioria governista na Casa é bem menor do que a da Câmara. Estavam presentes Temer, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e os senadores José Sarney (AP), Renan Calheiros (AL), Roseana Sarney (MA), líder do governo no Congresso, Valdir Raupp (RO), líder da bancada, e Romero Jucá (RR), líder do governo no Senado.

Os pemedebistas alegam necessidade de costurar acordo com a oposição. Viana ocupou a Presidência do Senado interinamente, quando Renan afastou-se para responder aos processos por suposta quebra de decoro. Renan foi absolvido, mas seus aliados dizem que ficaram ressentimentos pela forma com que o petista conduziu o processo - independente demais, dizem. Ideli, já líder do PT à época, foi mais atuante na defesa de Renan. "Como líder, eu fui para o enfrentamento. Mas o papel do Tião era outro, era de defesa da instituição", diz Ideli, em defesa do seu candidato.

Petistas mais fiéis ao Palácio do Planalto temem que a dúvida em relação à posição do PMDB e os rumores de resistências ao nome de Tião estimulem outras postulações. Delcídio Amaral (PT-MS), por exemplo, andou procurando colegas para tentar costurar seu nome. Não há outras candidaturas postas. O PMDB não tem candidato natural. Sarney é considerado como tal, mas tem dito que não aceita. A oposição, por sua vez, não deve lançar um nome apenas para marcar posição como já fez antes.