Título: Cresce nos EUA o clima de que Obama já ganhou a eleição
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 16/10/2008, Internacional, p. A10

Os admiradores mais fervorosos do senador Barack Obama não conseguem mais se segurar. Nos últimos dias, sempre que ele menciona num comício a possibilidade de chegar à Casa Branca, o público interrompe o discurso para gritar que ele já ganhou. A reação de Obama é sempre igual. Ele ri e pede que todos esperem a hora certa para festejar.

O aprofundamento da crise econômica nos EUA fez o candidato do Partido Democrata disparar na reta final da campanha presidencial, deixando-o muito perto de alcançar a maioria necessária para vencer a eleição e ampliando consideravelmente as dificuldades que o candidato governista, o senador John McCain, do Partido Republicano, encontra para detê-lo.

Obama tem hoje uma vantagem equivalente a 7 pontos percentuais sobre McCain nas pesquisas, de acordo com a média calculada pelo site Real Clear Politics, que monitora os levantamentos produzidos por dezenas de institutos. Segundo o Gallup, Obama tem o apoio de 50% do eleitorado e McCain conta com 43%.

O democrata também abriu vantagens significativas em Estados que tendem a ter um peso decisivo na formação do Colégio Eleitoral, que indicará o próximo presidente dos EUA depois da votação popular. Obama passou à frente de McCain até mesmo em Estados conservadores que tradicionalmente preferem os republicanos, como Virgínia, Flórida e Colorado.

A crise na economia aumentou a insatisfação do eleitorado com os republicanos e o governo do presidente George W. Bush, ajudando a engrossar a caravana dos democratas. As pesquisas também indicam que Obama foi muito bem sucedido nos debates em que enfrentou McCain, reduzindo as desconfianças que sua inexperiência desperta no eleitorado. Os dois se encontraram para o terceiro e último debate ontem à noite.

Faltam menos de 20 dias para a eleição, que será realizada em 4 de novembro, mas a história americana está cheia de casos de reviravoltas nas últimas semanas da campanha. Muita gente deixa para decidir na última hora. Na eleição presidencial de 2004, 13% dos eleitores decidiram na última semana, segundo um estudo feito por pesquisadores das universidades de Michigan e Stanford.

Muitos analistas acreditam que Obama já pode mandar o terno da posse para a lavanderia. Além do ambiente favorável para os democratas, conta a seu favor o comportamento errático de McCain. Ele tem revisto seu programa econômico toda semana em busca de um discurso mais convincente para o eleitorado e nos últimos dias desferiu uma série de ataques pessoais contra o rival. Os eleitores detestaram, conforme as pesquisas.

Mas a maioria dos analistas concorda que os democratas têm pelo menos três bons motivos para evitar comemorações antecipadas. Um deles é a história. Em 1980, o republicano Ronald Reagan derrotou o então presidente Jimmy Carter abrindo uma vantagem de cerca de 10 pontos percentuais na última semana da campanha, depois do último debate com o adversário.

Outro fator é a incerteza que existe sobre o comportamento dos eleitores nos EUA, um país onde ninguém é obrigado a votar. Nos últimos meses, os democratas registraram milhões de novos eleitores nos Estados em que a disputa entre Obama e McCain é mais apertada. Pesquisas indicam que a maioria dessas pessoas prefere Obama, mas ninguém sabe se elas sairão de casa para votar em novembro.

Muita coisa vai depender da capacidade de mobilização das máquinas partidárias. Obama e os democratas têm mais dinheiro do que McCain para gastar e já demonstraram que sua campanha é bem mais organizada que a dos republicanos. Mas muitos voluntários que trabalham para Obama são jovens e têm pouca ligação com os eleitores dos Estados em que atuam. Isso pode atrapalhar quando chegar a hora de fazê-los votar.

O terceiro fator é a questão racial. Obama é negro, e muitos especialistas acham que algumas pessoas tendem a mentir para os pesquisadores quando consultadas sobre ele, por terem medo de serem consideradas racistas se disserem que não gostam do candidato. Cientistas políticos acreditam que algo parecido ocorreu no passado em eleições locais onde havia candidatos negros com boas chances. Mas ninguém sabe ao certo se isso está acontecendo no caso de Obama.