Título: Palanque não é problema
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 06/02/2010, Política, p. 6

Estratégia do PT é dizer ¿sim¿ a todos os apoios possíveis à candidatura da ministra Dilma, mesmo que isso signifique dar suporte a rivais nos estados

Presidente eleito do PT, José Eduardo Dutra tem uma frase pronta para explicar a opção: ¿Apoio não se rejeita¿

O PT não quer saber de insatisfação dos principais aliados na corrida presidencial ao montar a estratégia eleitoral da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. A orientação é aceitar todos os apoios para aumentar o volume de campanha e isolar os adversários, mesmo que isso signifique subir em mais de um palanque nos estados onde os partidos da base do presidente Lula estejam separados.

A polêmica surgiu após a pré-candidata petista reunir-se com o ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho (PR), e discutir o apoio(1) eleitoral, o que enfureceu o governador Sérgio Cabral (PMDB), que negocia o apoio dos petistas. ¿Nós não podemos rejeitar apoio. O PT vai com o Cabral, mas a Dilma pode ter o apoio do Garotinho¿, disse o presidente eleito petista, José Eduardo Dutra.

O encontro entre o político do PR e a ministra ocorreu no início da semana passada e desdobrou-se em controvérsia porque surgiram relatos de que Dilma havia se comprometido a dividir o palanque, jargão político para, num comício eleitoral, pedir voto para determinado candidato. Como Cabral considera-se aliado primordial na eleição, sentiu-se traído.

O ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou que Dilma não recusará acordo, mas negou que tenha havido compromisso de palanque. ¿Não teve promessa de nada. Vamos ter situações em que vamos ter mais de um candidato apoiando a ministra Dilma¿, disse Padilha.

O PR negocia o apoio formal ao PT, por isso esse tema é tratado com cautela. ¿Apoio não se rejeita. O PT vai estar coligado com o governador Cabral. Se o Garotinho diz que apoia a Dilma, ela chuta ele? A situação do Garotinho no Rio vai acontecer em diversos estados¿, afirmou José Eduardo Dutra.

De fato, o Rio de Janeiro é apenas um exemplo no balaio de complicações que se tornaram as negociações regionais da aliança do PT com o PMDB. O problema se repete na Bahia, em Minas Gerais, no Maranhão, em Mato Grosso do Sul e no Rio Grande do Sul. ¿Vamos ter situações de mais de um palanque. A condução da campanha da ministra vai tratar desse tema¿, afirmou Alexandre Padilha. Mas há estados onde os palanques serão de outros aliados, como em Santa Catarina, no Piauí, em Mato Grosso e no Espírito Santo, por exemplo.

Dutra citou o Maranhão como uma situação complexa porque o PT local flerta com três candidatos: a governadora Roseana Sarney (PMDB), o ex-governador Jackson Lago (PDT) e o deputado Flávio Dino (PCdoB). Há uma tendência de apoiar a peemedebista. ¿O Jackson já disse que vai apoiar a ministra Dilma, não podemos rejeitar isso¿, disse José Eduardo Dutra, ressaltando a importância do acerto.

Querela O presidente eleito do PT disse que em Minas a opção pelo vice-presidente José Alencar (PRB) pode surgir como alternativa ao impasse criado entre petistas e peemedebistas. ¿O Zé Alencar teria o apoio de todos os partidos lá¿, disse. Mas, antes de discutir a viabilidade da candidatura do vice, Dutra defendeu a necessidade de resolver o impasse interno entre o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel e o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias. Os dois pleiteiam a indicação para disputar o governo estadual. Não bastasse a querela, há ainda uma discussão sobre se o candidato governista será do PT ou do PMDB, que tem como pré-candidato o ministro das Comunicações, Hélio Costa.

1 - Comunistas próximos Depois de PMDB e PDT anunciarem a intenção de formalizar o apoio eleitoral, a cúpula petista espera agora um sinal do PCdoB, que deverá fechar um indicativo de aliança com a pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, na próxima reunião da Executiva Nacional. ¿O PCdoB deve fazer uma sinalização de apoio antes do Congresso do partido¿, disse o presidente eleito do PT, José Eduardo Dutra.