Título: Coréia teme ser primeira vítima asiática da crise
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Fonte: Valor Econômico, 17/10/2008, Finanças, p. C12

A moeda sul-coreana sofreu ontem sua pior desvalorização diária em dez anos e alimentou os receios de que o país poderia ser a primeira vítima asiática da crise financeira mundial.

Com a queda de 9,7% do won sul-coreano em relação ao dólar, o principal órgão regulador do setor financeiro local pediu por esforços conjuntos para estabili­zar os mercados financeiros e re­forçar a economia real, injetando liquidez no setor bancário e cortando juros.

"É o momento de todas as au­toridades políticas juntarem for­ças na direção de estabilização da economia e dos mercados fi­nanceiros", destacou o diretor da Comissão de Serviços Financeiros, Jun Kwang-woo, no Parlamento.

Jun avaliou que os mercados financeiros continuarão sob pres­são até meados do próximo ano, uma vez que os bancos domésti­cos deparam-se com dificuldades cada vez maiores para captar no exterior. "Os problemas com a li­quidez em moeda estrangeira vêm piorando", disse. "A atual situação seguirá por algum tempo e continuará assim pelo menos até o primeiro semestre do próximo ano", afirmou.

Os comentários de Jun che­gam em meio à angústia no mercado financeiro local depois de a agência avaliadora de risco Standard & Poors ter colocado sete bancos sul-coreanos em re­visão para possível rebaixamento de classificação, pela dificul­dade de financiamento em moeda estrangeira.

A decisão levou investidores avessos a risco a livrar-se de ações sul-coreanas. O índice Kospi, referencial do mercado acionário local, caiu 9%, maior declí­nio diário em sete anos. O won perdeu cerca de 30% do valor neste ano, apesar dos esforços do banco central.

Outro sinal do nervosismo cada vez maior no sistema finan­ceiro foi a forte alta no custo pa­ra proteger-se contra casos de inadimplência na dívida externa do país. O prêmio dos swaps de crédito, (CDS, em inglês) contra­tos de derivativos para proteção contra calotes, de cinco anos subiu mais de 40 pontos-base ontem, para 330 pontos-base, de acordo com a Bloomberg. O número significa que custa US$ 330 mil por ano para precaver-­se contra a falta de pagamento­de títulos de dívida no valor de US$ 10 milhões. Desde a mínima mais recente, de 86 pontos-base, verificada no fim de julho, o prêmio quase quadruplicou. Em contraste, no Japão, o prêmio­ dos CDS manteve-se estável ao longo do mesmo período, abaixo de 35 pontos-base.

A falta de liquidez desencadeou pedidos para que o governo forneça garantias para as dívidas bancárias, de forma a encorajar os empréstimos inter­bancários. "O governo deveria ­mostrar forte determinação de ­intervir no mercado, fornecendo garantia para as captações em ­dólar dos bancos locais", observou o economista Chun Jong-woo, do Standard Chartered.

O economista Oh Suk-tae, do Citibank, disse não haver "dúvidas" de que os bancos estrangeiros estão reduzindo as linhas de crédito para os bancos sul-co­reanos.

"Pensávamos que o pior já havia passado, uma vez que os mer­cados mostraram certa estabilidade nos últimos dias, mas estávamos errados", disse Oh. "A crise de crédito está atingindo a Ásia e os investidores não confiam nas medidas do governo."

O governo injetou cerca de US$ 15 bilhões nos bancos e empresas locais desde o fim de setembro para abrandar os problemas de crédito e sustenta que mais recursos serão deixados disponíveis, embora não esteja claro quanto.

A confusão financeira de ontem reacendeu a memória da crise financeira asiática que obrigou a Coréia do Sul a buscar pa cote de resgate de US$ 57 bilhões do Fundo Monetário Internacional (FMI) quando sua moeda perdeu metade do valor.