Título: Venda de carros e motos cai em relação a 2007
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 17/10/2008, Empresas, p. B8

A DLO, uma loja de carro seminovos de Salvador, tem um estoque de 104 veículos. Já faz 20 dias que o proprietário Paulo Soares não fecha um único negócio. Em São Paulo, outro ponto de venda tradicional, a Faraj Autos , vinha num ritmo de negócios de 25 carros por mês. Até ontem, só três automóveis haviam sido entregues. O espectro que ronda o comércio de carros também atinge motocicletas. Neste mês, até ontem, a Márcio Motos, loja de São Paulo, só conseguiu fechar duas vendas.

O mercado das lojas que vendem sobretudo carros usados reflete o que acontece no segmento dos zero-quilômetro. Pela primeira vez, nos últimos 28 meses, as vendas de carros de passeio e de motos novos caíram, na primeira quinzena do mês, não apenas em relação ao mês anterior, como também na comparação com igual período do ano passado.

Dados da Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos (Fenabrave) indicam o emplacamento de 91.145 carros de passeio em todo o país na primeira metade de outubro. Isso representa queda de 7,48% em relação ao mesmo período de setembro e de 1,27% na comparação com os primeiros 15 dias de outubro de 2007. Em motocicletas, o resultado foi pior: queda de 15,8% na comparação com o mês passado e de 7,72% em relação há um ano.

Soares, de Salvador, conta que o aumento do rigor na aprovação de crédito por parte das financeiras paralisou negócios em andamento, com casos de suspensão de créditos que já haviam sido aprovados. Com isso, começam a surgir histórias de carros parados, à espera da aprovação de um leasing, por exemplo. No meio da euforia do mercado, Soares abriu um ponto de venda no Auto Shopping Itapoan, há um ano e meio, bem antes do que ele chama de "furacão".

Munir Faraj, sócio da loja de São Paulo, tem o caso de um cliente que há um mês teve o crédito de R$ 40 mil aprovado. Nos últimos dias, porém, ele decidiu refazer o negócio e comprar dois carros usando um crédito de R$ 44 mil para pagar em financiamento. Mas o banco, desta vez, não aprovou o negócio.

"Antes o crédito saía sem entrada; agora não liberam nada sem que o cliente disponha de pelo menos 20%", diz. A Faraj Autos está com estoque de 70 veículos, que praticamente não sai do lugar há pelo menos 20 dias. No meio deles há casos de carros estocados há três meses. Faraj garante que o Corsa 2008 seminovo que ele oferece por R$ 33,9 mil tem o preço mais baixo do mercado. Já está na loja há três semanas.

O aperto no crédito atinge, sobretudo, o consumidor de menor poder aquisitivo, aquele que estava começando a entrar no mercado de carros, estimulado pela facilidade de parcelamento.

Faraj conta que muitos clientes que haviam comprado há alguns dias começaram a voltar na loja, no intuito de devolver o produto. "Eles dizem que têm medo de perder o emprego", explica. O cliente amedrontado chega a propor largar o carro na loja sem pegar o dinheiro, na esperança que alguém se interesse por ele. "Estamos voltando ao que era o mercado há dez anos", diz Faraj.

A gerência da Márcio Motos culpa a mídia, que "não pára de entrevistar economistas aconselhando o brasileiro a adiar compras". Nessa loja, instalada na Zona Norte de São Paulo, as vendas caíram 70% desde o último dia 30. A redução da oferta de crédito paralisou os negócios. Há um mês, uma moto nova Honda CG, que custa R$ 5,8 mil, podia ter o preço todo financiado. Mas hoje as financeiras aprovam no máximo R$ 4,7 mil, segundo a gerência da loja. "Temos que nos virar com a diferença", diz o lojista, que tenta convencer o cliente a parcelar a diferença no cartão de crédito