Título: Siderúrgicas desativam fornos em Marabá
Autor: Ribeiro, Ivo; Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 17/10/2008, Empresas, p. B7

A recessão econômica americana já atingiu direto a produção de algumas siderúrgicas de ferro-gusa do país, principalmente da região Norte. As primeiras vítimas são fabricantes do pólo de Marabá, no Pará, que responde por cerca de um quarto das exportações nacionais, quase tudo para os Estados Unidos. Outros pólos, como o do Maranhão, também voltado para o mercado americano, enfrenta o mesmo dilema: dificuldade de renovar contratos de venda.

O ferro-gusa, matéria-prima para fabricação de aço, é usada principalmente por usinas que utilizam também sucata em seus fornos-elétricos. Os Estados Unidos são o principal importador do país: no ano passado levaram 62%, em valor, de todos os embarques nacionais 5,95 milhões de toneladas. A Nucor, segunda maior siderúrgica americana, é uma das maiores consumidoras de ferro-gusa brasileiro.

Duas usinas paraenses - a Usimar e a Sidenorte - paralisaram as operações por falta de pedidos. "Estamos há mais de um mês aguardando os consumidores que sumiram", afirmou Nail Othmam, gerente de vendas da Usimar. Com o fim de seus contratos em agosto e sem novas encomendas, no fim de setembro decidiu demitir seus 400 empregados e paralisar todas as operações.

Mauro Corrêa, diretor-executivo do Sindifarma, entidade que representa nove das 11 siderúrgicas do Estado (10 em Marabá e uma em Barcarena), afirmou que o cenário é de apreensão entre os fabricantes. Segundo ele, a Sidenorte "abafou" seu forno nesta quarta-feira e concedeu férias coletivas aos seus funcionários. Corrêa informa que só uma empresa exporta para Europa; as demais destina tudo aos Estados Unidos.

Luiz Guilherme Monteiro, diretor-financeiro do grupo Cosipar, afirmou que com o agravamento da crise a maior parte dos clientes acumularam estoques suficientes para operarem até o fim do ano. "Como há uma situação de crise, eles não estão comprando. A consequência é a queda contínua dos preços", diz. Segundo ele, as tradings estão oferecendo US$ 380 por tonelada do produto, que em agosto valia de US$ 500 a US$ 600 e no início deste ano havia chegado próximo de US$ 900.

O patamar de US$ 500 seria um bom preço se houvesse negócios e garantiria margem de rentabilidade às usinas, afirma Corrêa, do Sindifarma. Segundo ele, o minério da Vale entregue em Marabá vale US$ 100 a tonelada. Para produzir uma tonelada de gusa é necessária uma e meia de ferro, além de carvão vegetal e de insumos como energia. "A US$ 380 paga-se para produzir; por isso, é melhor parar a operação", diz. Em 2007, o Pará produziu 1,87 milhão de toneladas de ferro-gusa e exportou 1,76 milhão, com receita gerada de US$ 587 milhões.

Com duas usinas, o grupo Cosipar produz 600 mil toneladas ao ano. Seu diretor diz que está tudo vendido nos EUA em contratos longo prazo. Como tem uma trading, outro tanto de material de 50 fornecedores - 80% no México, EUA e Canadá, além de Europa e Ásia. garante que ainda não está cortando produção, mas já adiou um projeto de expansão de 300 mil toneladas. A previsão, para este ano, é exportar 1 milhão, ante 1,3 milhão em 2007, e para 2009 estima 800 mil toneladas. Depende do mercado americano, cuja demanda, diz, deve encolher de 6 milhões de toneladas para 4,5 milhões.