Título: Petistas reclamam de grupo que decide campanha de Marta
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 17/10/2008, Especial, p. A12

As dificuldades da campanha de Marta Suplicy (PT) para reverter a onda Gilberto Kassab em São Paulo devem-se, segundo um petista com cargo importante em Brasília, ouvido pelo Valor, ao fato de as decisões sobre o que fazer serem tomadas por um grupo muito restrito, "que acredita se bastar". Neste grupo estariam três ou quatro assessores da equipe mais próxima à candidata. Segundo essa análise, o formato impede que a campanha seja mais vibrante e que a militância repita o envolvimento de anos anteriores. A tensão interna e a divisão são claros.

A avaliação é mais uma prova de que a campanha petista segue aturdida depois da vitória do prefeito Gilberto Kassab (DEM) no primeiro turno e da liderança do demista nas pesquisas de intenções de votos de segundo turno - as diferenças variam de 12% (Ibope) a 17% (Data Folha). E aumenta a ferida interna depois da decisão de expor a vida privada de Kassab como estratégia para desconstruir a sua imagem.

"Isso foi coisa de algum engraçadinho que achava que isso renderia votos", reclamou um petista que milita no mesmo grupo da ex-ministra do Turismo. Outro correligionário de Marta lembra que essa opção pegou muito mal, até mesmo entre parlamentares que não são formuladores do pensamento petistas e sim, meros cães de guarda do partido. "Um desses deputados que adorariam golpes jurídicos para perpetuar o partido no poder disse que sentia vergonha do que a campanha paulistana fez".

É fato que o partido está dividido sobre os rumos da campanha e nem a cúpula tem posição uniforme.

Quando a polêmica surgiu, Marta transferiu a responsabilidade para o marqueteiro João Santana. Mas acabou defendendo o questionamento sobre a vida pessoal de Kassab, ressaltando que não houve qualquer insinuação preconceituosa. "Ela não podia negar e depois apoiar, ficou pior", disse um parlamentar da legenda, que discorda do comando da campanha. No mesmo dia, o coordenador da campanha, Carlos Zarattini (SP) divulgou nota defendendo a campanha de marketing. "Talvez eles tenham avaliado ser melhor retirar a propaganda mas defender o que fizeram do que admitir o erro cometido", completou uma fonte petista.

A situação só não é pior porque interessa ao PT a vitória em São Paulo e, por isso, as principais estrelas do partido participam dos atos de campanha como personagens, não como formuladores. "É inevitável que tenhamos solidariedade com ela, para que possamos vencer a prefeitura. Temos entusiasmo pela Marta e pelo PT. Mas a campanha das ruas não está empolgando", disse o petista.

Dois dias depois do primeiro turno, o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP) dera o mesmo diagnóstico final, sem apontar as origens do problema. "Não houve salto alto nem arrogância. Mas precisamos ter uma postura muito mais vibrante a partir de agora". Segundo petistas, no primeiro turno das eleições municipais há um casamento entre as campanhas dos proporcionais e os majoritários. "Pode ser que agora, no segundo turno, com uma campanha exclusiva para prefeito, haja uma interação maior. Temos que fazer algo para mobilizar o partido".

Um deputado próximo de Marta atacou as críticas feitas por correligionários. "É cedo para fazer qualquer avaliação. Campanha não tem biópsia, só autópsia. Só teremos condições de analisar os erros depois que a campanha terminar". O parlamentar martista disse que quem critica agora deve estar torcendo pela derrota da ex-prefeita. "Engraçado eles dizerem que mantivemos a defesa da propaganda contra Kassab. Não poderíamos cravar um faca em nosso próprio peito e começarmos também a atacar a Marta", disse o deputado.