Título: BC inicia hoje leilões com recurso de reservas
Autor: Camarotto, Murillo
Fonte: Valor Econômico, 20/10/2008, Finanças, p. C1

O primeiro leilão do Banco Central (BC) com dinheiro das reservas destinado ao financiamento de operações de comércio exterior, no valor de US$ 2 bilhões, está previsto para hoje, das 16 às 17 horas.

O prazo do empréstimo será de seis meses, vencendo em 20 de abril de 2009.

Poderão participar todas as instituições financeiras autorizadas a operar no mercado de câmbio, de acordo com as regras divulgadas sexta-feira, pelo Banco Central, por meio do Comunicado 17.540.

A taxa de juros será composta pela taxa interbancária de Londres (Libor) de sexta-feira (um dia útil antes da operação), mais um spread que deverá ser definido durante o leilão. A Libor de seis meses em dólar ficou em 4,13% sexta-feira.

Nessa primeira transação, os bancos terão que dar como garantia títulos da dívida externa soberana brasileira (do tipo Global) em valor de 5% acima do montante efetivamente tomado.

O Banco Central poderá pedir margens adicionais de proteção se houver variação acima de 3% no preço de mercado das garantias oferecidas.

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles informou que, nos próximos leilões, serão aceitos títulos de dívida outros países, desde que tenham classificação de risco mínima de A, além de operações de adiantamento sobre contratos de câmbio e sobre cambiais entregues (ACC e ACE).

Meirelles informou que o Banco Central irá fiscalizar o direcionamento efetivo dos dólares para o financiamento do comércio exterior por meio de um acompanhando da movimentação das linhas de crédito bancárias.

Ele explicou que o volume de contratos de ACC vendidos por um banco tem que ser, no mínimo, igual ao volume de dólares contratado no leilão. O presidente do Banco Central disse também que o não cumprimento do direcionamento estará sujeito a "punições cabíveis", embora não tenha detalhado quais serão essas penas.

Ele disse ainda que não há limite estabelecido para as operações que, assim como a periodicidade dos leilões, acompanhará a demanda das empresas. Meirelles assegurou, no entanto, que as reservas internacionais brasileiras cobrem "com folga" essa necessidade. Atualmente, o país tem reservas de mais de US$ 200 bilhões.

Com relação aos leilões de linha vinham sendo realizados - que englobam venda à vista de dólares pelo BC, com garantia de recompra futura - , Meirelles afirmou que eles estavam causando efeitos colaterais no sistema financeiro, já que os bancos tinham que desembolsar reais para comprar os dólares, comprometendo sua liquidez em moeda local. Entretanto, ele não descartou a hipótese de que esse leilões voltem a ocorrer.