Título: Lula e Serra jogam seu prestígio no ABC
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 20/10/2008, Política, p. A8

Na disputa pela Prefeitura de São Bernardo do Campo, o candidato do PT, Luiz Marinho, e o do PSDB, Orlando Morando, nacionalizam a campanha e testam o prestígio político do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do governador José Serra (PSDB). O presidente voltou ontem pela terceira vez à cidade, para um comício ao lado do candidato petista e atacou os tucanos. Para contrapor a presença de Lula, a campanha de Morando aposta na volta de Serra ao município nesta semana, também pela terceira vez, para reverter a desvantagem do candidato, que tem 34% dos votos, ante 51% de Marinho, segundo pesquisa Ibope divulgada no fim de semana. Na manhã de ontem, sob frio intenso e garoa, o presidente reuniu milhares de militantes para atacar duramente a campanha do adversário de Marinho. "Do lado de cá, as pessoas que estão nos apoiando têm um currículo, um história. Do lado de lá, eles devem ter um prontuário", disse.

O presidente comentou, no começo do discurso, que nunca fez campanha de baixo nível para atacar seus opositores. Disse que não se pode dar crédito às críticas feitas pelos adversários. "Aqui ninguém pode acreditar em uma infâmia, em jogo rasteiro que podem começar a fazer. No desespero as pessoas traem até a mãe", comentou. Marinho e seu vice, o deputado e cantor Frank Aguiar, foram alvo de preconceito em folhetos distribuídos na cidade. Lula, entretanto, logo começou a criticar Morando.

"Eu acordei com o carro de som do adversário", comentou o presidente, que passou o fim de semana em seu apartamento, em São Bernardo. "Fiquei imaginando: como é que alguém pode pleitear ser candidato e falar as bobagens que aquele moço fala?" Segundo Lula, a oposição ao PT acha que "povo é babaca" e "quer convencer a gente com qualquer bobagem". "Eles não percebem que somos inteligentes. Que não existe mais aquele formador de opinião. Um tempo atrás, o jornalista escrevia artigo contra alguém e falavam: ele é formador de opinião. A minha vitória em 2006 foi a derrota dos formadores de opinião pública do país."

No palanque, Lula voltou a falar que daria um cheque em branco a Marinho, ex-ministro de seu governo, e que está empenhado pessoalmente na eleição de seu aliado, em seu berço político. O candidato garantiu que, se eleito, governará os quatro anos e será candidato à reeleição. "Não sou candidato ao governo do Estado em 2010", disse o candidato petista.

Para a oposição, a derrota de Lula em São Bernardo é estratégica. Na sexta-feira passada, Morando levou à cidade o presidente do partido, senador Sérgio Guerra (PE), para reforçar a candidatura. Em um ato político no escritório da campanha, ao lado de quatro deputados federais paulistas e do presidente estadual do PSDB, Mendes Thame, os tucanos criticaram o peso de Lula na campanha de Marinho. "Só falta Lula vir aqui entregar santinho e segurar bandeira, porque de resto ele já fez tudo", reclamou Morando. O presidente nacional do PSDB disse torcer para que esta eleição desfaça de Lula "o conceito de milagreiro, de dono do mundo". "O presidente quer passar a impressão de que ele é o dono do povo. Mas já no primeiro turno ficou claro que ele não é o dono do povo", criticou Guerra. Empresário e vice-presidente da Associação Paulista de Supermercados, Morando reclama também do "tsunami financeiro" da campanha do adversário.

Dois dias antes do ato, na quarta-feira, Morando fez campanha ao lado do prefeito e candidato à reeleição em São Paulo, Gilberto Kassab (DEM). E no sábado anterior, estava ao lado de Serra na cidade. A campanha tucana tenta reverter a desvantagem nas pesquisas de opinião. No primeiro turno, o petista teve 48,27% dos votos válidos, e Morando, 37,55%. Terceiro lugar nas urnas, Alex Manente (PPS) apóia Marinho e é um dos principais cabos eleitorais do PT no segundo turno. Manente obteve 12,24% dos votos válidos.

Além da presença de Lula e de Serra nos palanques, é visível nas esquinas da cidade o uso da imagem do presidente e do governador. Serra aparece junto a Morando em placas e painéis da campanha tucana para destacar projetos que também fazem parte do plano de governo de Gilberto Kassab, em São Paulo, como as Amas (ambulatórios médicos) e as câmeras de segurança. No site da campanha de Morando, o depoimento de Serra para o candidato está destacado. Na publicidade petista, o presidente tem mais espaço do que o candidato e, nos faróis, cabos eleitorais seguram faixas com os dizeres: "Lula é Marinho. Lula é 13".

Quando não aparece ao lado do governador, o candidato tucano está sozinho. A imagem do prefeito William Dib (PSB), seu aliado político, não está na maior parte da propaganda eleitoral espalhada pela cidade. O candidato, entretanto, nega ter omitido a imagem de Dib por conta da rejeição dele. O material de campanha de Marinho é o oposto: o petista sempre aparece ao lado de aliados como o vice, Frank Aguiar, o ex-prefeito Mauricio Soares e Alex Manente.

Dib também foi alvo de Lula ontem. O presidente criticou o prefeito por não pedir recursos ao governo federal e disse que "não falta dinheiro no país" para projetos. "O que falta é projeto. Eu duvido que um prefeito apareça lá em Brasília apresentando um projeto de R$ 40 bilhões, que alguém vai dizer que não tem dinheiro. O que precisa ter é o projeto, porque a gente não dá dinheiro para idéia. A gente dá dinheiro é para projeto. Nos dados divulgados pelo presidente, o governo federal destinará R$ 504 bilhões para as prefeituras e governos estaduais gastarem até 2010. E, como se Marinho já tivesse sido eleito, deu um recado ao candidato: "Marinho, nem precisa esperar assumir. Prepara os projetos que as coisas podem e vão acontecer."

Na disputa entre o prestígio dos padrinhos políticos, o Ibope mostra que Lula leva vantagem na cidade: 45% dos entrevistados disseram que a presença de Serra teve alguma relevância na escolha do voto, mas 50% acreditam que o governador não influencia. Sobre Lula, 54% afirmaram que o apoio dele a Marinho tem influência e 42% acham que não há ligação.