Título: Contas ajudam o país a superar turbulência, diz presidente do BC
Autor: Torres, Fernando; Rosas, Rafael
Fonte: Valor Econômico, 21/10/2008, Finanças, p. C2

Ao contrário do que foi observado em outras crises internacionais, as contas públicas brasileiras são hoje um "fator estabilizador" em relação à recente turbulência, afirmou o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, na posse da nova diretoria da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), no início da tarde de ontem. Mais cedo, ele esteve reunido com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e com a diretoria da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil (BB), também em São Paulo.

O superávit primário praticado pelo governo tem garantido a queda da relação entre a dívida líquida do setor público e o Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos anos. A valorização do dólar tem melhorado esse indicador. "A cada 10% de depreciação do real, há uma queda de 1,1 ponto percentual da dívida líquida em relação ao PIB", disse.

O presidente do BC lembrou que isso só ocorre porque o Brasil é, hoje, credor líquido em dólar, algo que foi possível, entre outros fatores, por conta do aumento das reservas. "Nossa tão criticada acumulação de reservas, sem prejuízo da necessária flexibilidade cambial, mostra-se hoje providencial", disse Meirelles, lembrando que dispõe nesse momento de um vasto arsenal de recursos para prover a adequada liquidez do sistema.

Apesar da crise financeira, o BC continuará cumprindo com as metas estabelecidas para inflação e avaliará os efeitos da crise para melhor se decidir sobre os juros, garantiu Meirelles. A meta estabelecida para a inflação de 2008, pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 4,5%, podendo variar dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Meirelles disse que o Comitê de Política Monetária (Copom) manterá sua estratégia "Temos um compromisso com as metas de inflação", afirmou. A próxima reunião do Copom será dias 28 e 29. A taxa básica de juros (Selic) está em 13,75% ao ano.

No boletim Focus divulgado ontem, a projeção dos analistas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano passou de 6,20% para 6,23%. Para 2009, os analistas mudaram a expectativa de 4,80% para 4,90%. A meta oficial para 2009 também é de 4,5%. Já as projeções dos analistas registradas pelo Focus para a Selic é de que a taxa esteja, até o final deste ano, em 14,50%. No boletim anterior, a previsão era de 14,75%.

O diretor de Normas do Banco Central , Alexandre Tombini, elogiou o sistema regulatório do setor de crédito no Brasil e afirmou que as regras existentes no país contribuem para minimizar os efeitos da turbulência global na economia nacional. Tombini revelou que, no cenário internacional, "práticas inadequadas" no tratamento das carteiras de crédito colaboraram para aprofundar a crise.

"A regulação prudencial do Brasil se destaca em relação a algumas outras jurisdições " , afirmou Tombini, que participou da abertura do World Consumer Credit Reporting Conference (WCCRC), no Rio de Janeiro.

O diretor foi enfático ao afirmar que características típicas do sistema brasileiro evitaram um alastramento da crise no setor de crédito no país. Como exemplos, citou a menor exposição a riscos nas carteiras de crédito e as estruturas qualitativas de análise.

(Com Agência Brasil)