Título: BB é maior tomador em leilão de US$ 1,6 bi de linhas à exportação
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini; Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 21/10/2008, Finanças, p. C1

O Banco do Brasil foi o principal tomador das linhas de US$ 1,62 bilhão colocadas no primeiro leilão feito pelo Banco Central em moeda estrangeira para financiar o comércio exterior, realizado ontem. O BB ficou com 60% a 65% do total de US$ 1,62 bilhão, segundo o mercado. Foram aceitas propostas de quatro bancos, que equivalem a pouco mais de 80% dos US$ 2 bilhões ofertados no leilão.

Para tomar os recursos, os bancos tiveram de oferecer como garantia títulos da dívida externa brasileira, os "global bonds". Os bancos privados até queriam participar com lotes maiores, mas não têm muitos "globals" disponíveis no caixa, segundo eles. A maior parte já foi usada como garantia para tomar o escasso crédito em dólar de outros bancos em transações de compra com compromisso de recompra ("repo"). Desde o dia 15 de setembro, os títulos da dívida brasileira são garantia aceita pelo Fed (banco central dos Estados Unidos) nos empréstimos especiais que os bancos dos países ricos tomam para continuar funcionando em meio à forte crise de solvência e liquidez internacional.

A taxa de juros definida na oferta pública de linhas à exportação do BC foi a Libor de sexta-feira para seis meses mais 0,11% ao ano. Em relação à Libor de ontem, o prêmio ficou em 0,40%, pois a Libor de seis meses caiu 0,30 ponto percentual entre sexta-feira e ontem. Os custos permitem disputa de preços entre os bancos, segundo o BB. Por meio de sua assessoria de imprensa, o BB confirmou que foi um dos grandes participantes do leilão, mas não quis definir percentuais de atuação. O BB lembrou ainda que é o maior participante do mercado de crédito à exportação, com cerca de 30% do total.

O leilão inaugura a nova linha de empréstimo criada pelo governo para garantir o financiamento de importações e exportações durante a crise internacional, que provocou o corte dos empréstimos de bancos estrangeiros para os bancos e empresas brasileiros. Segundo regulamento baixado ontem pelo BC, os bancos terão dez dias para aplicar os recursos em operações de comércio exterior.

O diagnóstico do governo é que a crise provocou um corte temporário nos financiamentos ao Brasil. Por isso, decidiu usar os recursos das reservas internacionais para oferecer empréstimos temporários para as instituições financeiras. No edital do leilão, ficou definido um prazo de seis meses para o empréstimo com garantia nos "global bonds".

Uma das preocupações do governo é evitar que a falta temporária de liquidez no mercado leve a pressões adicionais no câmbio. Ontem, o dólar subiu 0,23%, para R$ 2,125. Desde seu menor nível do ano, em 1º de agosto, o dólar subiu 36%. A leitura do BC é que a crise internacional deverá levar à depreciação do real, já que o menor crescimento da economia mundial deverá levar à redução da demanda de produtos exportados pelo Brasil, como "commodities". Mas, para a autoridade monetária, o movimento no câmbio é exacerbado pela falta de liquidez.

O BC tem repetido nos últimos anos que não irá procurar determinar o valor do dólar, já que o regime cambial do país é flutuante. Mas tem ressaltado que poderá atuar para evitar volatilidade. Na visão do BC, a falta temporária de linhas de financiamento ao comércio poderia levar a uma depreciação do câmbio que, mais adiante, seria desfeita, assim que o fluxo de dólares ao país se normalizasse.

A atuação do BC para suprir dólares ao comércio exterior ocorre por meio de dois instrumentos. Desde meados de setembro a autoridade monetária realiza leilões de venda temporária de dólares. Nessas operações, o BC entrega dólares aos bancos e, em troca, recebe reais, com o compromisso de fazer uma operação inversa depois de alguns meses, recomprando os dólares e entregando reais aos bancos. O objetivo desse tipo de operação é substituir linhas que os bancos brasileiros tomava no mercado interbancário internacional.

No novo leilão de ontem, o BC emprestou dólares garantidos por títulos. A medida provisória nº 442, que criou a nova linha, deixa aberta a possibilidade de o BC aceitar em leilões futuros operações de crédito em moeda estrangeira, como Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC), como garantia.