Título: Dólar caro tem pouco efeito sobre dividas das distribuidoras
Autor: Goulart, Josette
Fonte: Valor Econômico, 21/10/2008, Empresas, p. B7

As empresas distribuidoras de energia de capital aberto não estão preocupadas com a escalada do dólar quando o assunto é endividamento. Desde 2004, com a entrada em vigor do novo modelo do setor, as companhias começaram a reestruturar suas dívidas. Dados apresentados ontem em seminário promovido pela Apimec e Abradee (associação das distribuidoras), realizado em São Paulo, mostram que o endividamento das empresas de distribuição caiu 40% entre 2002 e 2007, saindo de R$ 28 bilhões para R$ 18 bilhões. A queda do endividamento em moeda estrangeira foi ainda maior, de 80%, saindo de R$ 17 bilhões para R$ 3 bilhões no mesmo período. Marisa Cauduro / Valor Ferreira, presidente da CPFL, diz que em função de Itaipu o caixa da CPFL Paulista foi afetado em R$ 100 milhões

O diretor de relações com investidores da Neoenergia, Erik Breyer, diz que não possível se preparar para uma crise depois que ela começa. Essa preparação precisa começar muito antes. Segundo ele, desde 2004 a empresa vem alongando sua dívida e, principalmente, desconcentrando vencimentos, para evitar tropeços quando as crises chegam. A dívida em dólar da Neoenergia representa 9,5% do total da empresa.

A situação da Eletropaulo também é muito confortável. No ano passado a companhia renegociou a sua dívida principal, com o fundo de pensão da Cesp. Agora, o pagamento de R$ 2,2 bilhões para o fundo poderá ser feito até o fim da concessão da empresa, que termina em 2028.

A empresa tem outros R$ 2 bilhões em dívidas, mas também já tinha feito o refinanciamento no ano passado quando alongou o perfil médio de dois anos para seis anos e reduziu o custo de Selic mais 250 pontos básicos para 125 pontos básicos. O presidente da Eletropaulo, Britaldo Soares, diz ainda que a exposição cambial da companhia é mínima. O próximo pagamento substancial de amortização de dívidas só acontece em 2010, no valor de R$ 474 milhões, segundo o vice-presidente financeiro da companhia, Alexandre Innecco.

A questão do dólar afeta mesmo é o caixa das companhias distribuidoras do Sul, Sudeste e Centro-Oeste que pagam em dólar a energia de Itaipu. A Eletropaulo teve um reajuste tarifário recente que levou em consideração um dólar de R$ 1,64. A escalada da moeda americana vai afetar, assim, o caixa da companhia.

O presidente da CPFL Energia, Wilson Ferreira Júnior, disse que em função de Itaipu o caixa da CPFL Paulista foi afetado em R$ 100 milhões, o que ele considera pouco. As empresas normalmente se mostram tranqüilas porque esse é um custo que afeta o caixa somente até o próximo reajuste tarifário, quando o custo em dólar da empresa é repassado para a tarifa e ainda corrigido pela Selic. O problema torna-se sério quando a empresa não gera caixa suficiente e assim precisa ir ao mercado buscar capital de giro, que está caro hoje.

Sem levar em consideração a energia de Itaipu, a exposição cambial do grupo CPFL, segundo Ferreira, é de apenas 4% e, mesmo assim, tem uma proteção natural já que a empresa tem créditos em dólares a receber. A empresa tem debêntures no valor de R$ 400 milhões vencendo em 2009, mas, segundo Ferreira, essa não é uma preocupação porque a companhia já teria fechado as condições de rolamento dessa dívida.

Em geral, a exposição cambial apresentada pelas empresas não supera os 10%. A Cemig praticamente não tem dívida em dólar e 78% do seu endividamento é atrelado ao CDI. A Elektro, segundo o diretor de relações com investidores, Rodrigo Silva, tem seus financiamentos também em reais, liberados por BNDES, Eletrobrás e Finep.