Título: Vacinação para (quase) todos
Autor: Mariz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 26/02/2010, Brasil, p. 11

Ministério da Saúde muda programa nacional de imunização e coloca nova faixa etária ¿ entre 30 e 39 anos ¿ no cronograma de quem receberá as doses entre março e maio. Temporão alega que queda no preço de compra ajudou

Felipe Xavier lamenta que o pai, de 57 anos, não poderá tomar a dose: ¿Ficaríamos mais seguros se todo mundo pudesse receber¿

Uma queda de pelo menos 35% no valor da dose levou o Ministério da Saúde a ampliar a faixa da população que receberá a vacina contra o vírus A (H1N1) no Brasil. Além de profissionais da saúde, indígenas, gestantes, crianças de seis meses a dois anos, jovens de 20 a 29 anos e pessoas com doenças crônicas, adultos de 30 a 39 anos serão imunizados contra a gripe suína. Especialistas avaliam a ampliação de forma positiva, destacando, porém, que o ideal seria imunizar 100% dos brasileiros. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, apontou que a disponibilidade do medicamento, hoje encalhado em muitos países da Europa, tornou possível a inclusão de mais pessoas no plano de vacinação, negando que o país tenha tentado receber o produto gratuitamente.

¿Não teria sentido pedir doação, nós compramos a vacina porque sobrou mais vacina. Lembro que a primeira compra foi feita em novembro do ano passado, era uma outra realidade. E agora, no mercado internacional, houve disponibilidade a mais, e isso permitiu que nós incorporássemos essa nova faixa de 30 a 39 anos¿, afirmou o ministro. Com a mudança, serão necessárias mais 30 milhões de doses do medicamento, totalizando 113 milhões. A compra será realizada com o aporte de R$ 300 milhões, previstos para serem liberados por medida provisória. O preço da dose nas compras anteriores girou entre R$ 11,64 e R$ 13,33, agora foi negociado por R$ 7,65. As vacinas adicionais virão de um laboratório francês, que as repassará ao Instituto Butantan, onde elas serão envasados.

Máscara

Para o presidente da Sociedade Brasiliense de Infectologia do Distrito Federal, Julival Ribeiro, quanto maior a cobertura, melhor. ¿Já que não terá para todo mundo, que vacinem o quanto puderem¿, afirma. O especialista não tem dúvidas quanto à importância da imunização, mesmo com os riscos inerentes a uma vacinação em massa. ¿Ninguém sabe se esse vírus pode mutar, ou seja, se pode se tornar mais agressivo. Entendemos os temores que podem haver em países que já passaram pela vacinação. Porém, essa é o único meio de nos proteger desse vírus¿, afirma. Temporão rechaçou qualquer dúvida sobre a eficiência do medicamento. ¿Não tivemos nenhum relato de efeitos colaterais nos países que já fizeram as campanhas, é uma vacina segura e eficaz¿, afirmou.

O analista de sistemas Felipe Bruno Xavier não tem dúvidas. Depois de conviver com o pai adoentado, que contraiu a gripe suína no ano passado e se curou depois de fazer o tratamento, o rapaz, de 25 anos, vai se vacinar assim que puder. ¿Ele ficou sem voz, bem ruim mesmo. Parecia uma gripe forte, só que pior. Lá em casa, ficamos todos de máscara, ele teve de permanecer isolado até ficar bom¿, conta Felipe. Sem querer passar pelo mesmo problema de novo, ele ressente-se de o pai, que tem 57 anos, não poder tomar a vacina. ¿Não dá para dizer que é errado, deve haver algum sentido nesse critério dos grupos prioritários. Mas ficaríamos mais seguros se todo mundo pudesse receber¿, afirma Felipe.

Epidemiologista e professor da Universidade de Brasília (UnB), Pedro Tauil aponta como acertada a decisão do Ministério da Saúde de vacinar pessoas de 30 a 39 anos. E não vê motivo para os grupos não contemplados terem medo. ¿Vacinando uma grande parte da população você cria uma barreira imunológica forte, chamada de imunidade de rebanho¿, destaca. Temporão classificou como desnecessária uma eventual corrida de pessoas a clínicas particulares que passem a comercializar a vacina. ¿Quando crio um grupo grande vacinado, faz com que a totalidade se proteja¿, diz. Sobre a população que não terá direito a vacina, o ministro voltou a dizer que a definição do público segue parâmetros decididos ¿por renomados especialistas¿, baseados em diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS). A nova gripe matou 1.705 pessoas no Brasil. Mais de 20 mil casos foram registrados.

Dengue

Temporão afirmou que o Ministério da Saúde tem auxiliado os estados do Acre, Goiás, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul no combate à dengue, mas pediu que a população também faça sua parte, ao lembrar que o clima atual contribui para uma proliferação do Aedes aegypti. ¿Este ano fez muito calor, o que encurta pela metade o período de evolução de larva para mosquito. Por isso, pedimos a todo mundo que tome as providências necessárias, não fiquem só esperando que outras pessoas façam alguma coisa¿, afirmou o ministro. Hoje, a pasta divulgará o número de casos de dengue no país em 2010.

Ninguém sabe se esse vírus pode mutar, ou seja, se pode se tornar mais agressivo. Entendemos os temores que podem haver em países que já passaram pela vacinação¿

Julival Ribeiro, presidente da Sociedade Brasiliense de Infectologia do Distrito Federal

Vacinando uma grande parte da população você cria uma barreira imunológica forte¿

Pedro Tauil, epidemiologista