Título: Médias de importação e exportação recuam
Autor: Neumann, Denise; Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 21/10/2008, Brasil, p. A3

O dólar mais caro e a falta de crédito para o setor exportador afetaram a balança comercial em outubro, especialmente na terceira semana. Entre os dias 13 e 19 deste mês, as médias diárias de exportação e importação recuaram. O recuo na exportação é sazonal nesta época, mas as importações tradicionalmente sobem entre setembro e outubro, meses em que o comércio recebe os produtos para as vendas de fim de ano. Na terceira semana do mês, a média diária das exportações ficou em US$ 818,6 milhões (10% abaixo da média de setembro), enquanto o desembarque diário de importações somou US$ 751,8 milhões (4,2% abaixo da média de setembro).

Em relação às médias diárias até a segunda semana de outubro - US$ 856 milhões de exportações e US$ 788 milhões de importações - também houve, na terceira semana do mês, queda nas duas operações. As exportações caíram 4,37% e as importações, 4,65%, segundo dados divulgados ontem pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento. O dólar rompeu a barreira de R$ 2 no início de outubro, e na semana passada o câmbio médio foi de R$ 2,1355

Especialmente nas importações, o resultado de outubro traduz uma atitude de cautela dos importadores, que adiam o desembaraço de mercadorias à espera de um câmbio mais favorável. Para analistas de comércio exterior, o efeito da valorização cambial sobre a balança comercial será sentido, de fato, em 2009.

A GPC Química, empresa com negócios nas áreas de metanol e resinas, alterou o ritmo das importações por força das oscilações do dólar. Wanderlei Passarella, diretor-presidente da empresa, disse que a companhia "segurou" um embarque de metanol importado do Chile em conseqüência da alta da moeda americana em relação ao real. "Suspendemos temporariamente, mas a tendência é de normalização (das importações) à medida em que o câmbio se estabilize próximo a R$ 2, R$ 2,1 por dólar", disse Passarella.

Ele acrescentou que a empresa tem grande parte da receita, cerca de 70%, atrelada ao dólar. Na visão de Passarella, o importante é ter uma taxa de câmbio mais estável, sem grandes variações para cima ou para baixo. "O câmbio a R$ 1,5 também não dá", comparou. A decisão da empresa de suspender temporariamente o embarque de metanol do Chile se deu quando o câmbio bateu, semana passada, na faixa de R$ 2,2, R$ 2,3 por dólar.

Para José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a expectativa de que a cotação do dólar situe-se em um patamar um pouco mais baixo que o atual pode levar empresas a retardar a entrada de importações no país, com eventuais ganhos fiscais. Isso porque os impostos sobre a importação são pagos só na hora em que a empresa faz o registro da declaração de importação no Siscomex.

Na comparação de outubro em relação a setembro, pela média diária, houve redução das vendas internacionais de bens manufaturados (queda de 15,6%) e de básicos (recuo de 5,2%). As maiores quedas em manufaturados foram em material de transporte (menos 40,6%) e elétricos e eletrônicos (menos 16,4%). Sobre as importações, houve retração nos desembarques de equipamentos mecânicos, elétricos e eletrônicos, veículos e partes e farmacêuticos, entre outros, na comparação entre as médias de setembro e outubro.

Nos 13 dias úteis de outubro, foram exportados US$ 10,9 bilhões, o que equivale a um desempenho 17,4% superior à média obtida em outubro do ano passado. Em contrapartida, o desempenho desses 13 dias é 7,5% menor que a média estabelecida nos 13 primeiros dias úteis do mês de setembro. Nos 202 dias úteis do ano, as exportações somaram US$ 161,8 bilhões - aumento de 28% sobre igual período de 2007 -, enquanto as importações foram de US$ 141,2 bilhões, 51,2% a mais que no ano passado.

O saldo da balança comercial soma US$ 20,5 bilhões, um desempenho 37,7% abaixo do superávit registrado no mesmo período do ano passado. (Com Agência Brasil)