Título: BNDES terá R$ 3 bi para capital de giro
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 21/10/2008, Brasil, p. A5

O BNDES se prepara para lançar no mercado uma linha de crédito de capital de giro da ordem de R$ 3 bilhões a juros de mercado para socorrer o setor privado. A nova linha de longo prazo não terá restrição por setor de atividade ou tamanho de empresa, como acontecia com os programas Revitaliza e Progerem. A nova linha, contudo, poderá ter um limite de captação por empresa, apurou o Valor junto a fontes do governo. Ruy Baron / Valor Luciano Coutinho, presidente do BNDES: périplo por agências multilaterais para reforçar caixa do banco em 2009

O que ainda está em discussão no novo produto do banco é se o financiamento deste crédito será feito através de agentes financeiros do BNDES ou diretamente do caixa da instituição. A hipótese mais provável é que se mantenha a regra estabelecida pela casa: empréstimos de até R$ 10 milhões repassados via agente e, acima deste valor, pelo BNDES. A idéia do governo é criar um instrumento de apoio financeiro para evitar falência de empresas em tempos de escassez de crédito por conta da crise financeira internacional. A expectativa oficial é que os maiores demandantes da nova linha sejam pequenas e médias empresas, mais carentes de recursos. Mas as grandes empresas também terão acesso ao financiamento.

Até agora, na história do banco, linhas de capital de giro eram raras. A partir de 2005 foram ativados dois programas desse tipo de financiamento, mas com limites por porte de empresa e setores: o Progerem e o Revitaliza. O Progerem foi focado em municípios selecionados pelo banco e destinado a projetos relacionados aos Arranjos Produtivos Locais (APLs). Seus recursos são para micro, pequena e média empresas. Ele tem dotação orçamentária anual que vem sendo renovada todos os anos e termina agora, em 31 de dezembro.

Para este ano, o Progerem tem dotação de R$ 500 milhões, dos quais cerca de R$ 200 milhões foram desembolsados até setembro. Suas condições são TJLP (6,25%) mais 3% ao ano de spread do BNDES e mais 4% do agente financeiro, com prazo de 24 meses para pagar e até 12 meses de carência.

O Revitaliza - programa de apoio e revitalização dos setores calçadistas, artefato de couro, beneficiamento de couro, beneficiamento de madeira, pedras ornamentais, moveleiro, têxtil e confecções - vigorou de junho de 2007 até junho de 2008. O programa tinha uma dotação de R$ 2 bilhões. Ele foi criado para apoiar as empresas intensivas em capital e com problemas de câmbio. Tinha duas modalidades de financiamento: taxa fixa e taxa variável, com um custo na casa dos 7% para a fixa, mais 0,5% de spread do BNDES e 3,5% do agente com equalização do Tesouro, e prazo de 96 meses.

Na política industrial, em junho, foi criado um novo Revitaliza, agora já aprovado pelo Congresso. A idéia era dotar o novo Revitaliza com R$ 9 bilhões para liberação em três anos, até 2010. Seriam liberados R$ 3 bilhões a cada ano. O governo, segundo interlocutores, deve engavetar o Revitaliza e colocar em seu lugar a nova linha de capital de giro, a ser anunciada, já que com a desvalorização do câmbio perdeu sentido um programa para empresas que sofriam com a apreciação do real. O que está em foco agora é o crédito. O funding de 2008 do BNDES já foi praticamente fechado, e agora, Luciano Coutinho, presidente do banco, começa a trabalhar para encher o cofre do banco em 2009, quando prevê demanda aquecida e desembolsos acima de R$ 90 bilhões.

Este ano, Coutinho teve sucesso na luta por recursos para o BNDES. Vai fechar o ano com fluxo de caixa de R$ 104,2 bilhões. O BNDES vai alcançar R$ 52 bilhões de retornos de empréstimos, mais R$ 27,5 bilhões repassados pelo Tesouro, dos quais já recebeu R$ 22,5 bilhões, mais R$ 9,5 bilhões do FAT, R$ 6 bilhões de Certificados de Variação Salarial (CVCs) já obtidos e gastos.

No momento, o banco está aguardando a entrada no caixa de R$ 7 bilhões do Fundo de Infra-Estrutura do FGTS, mais US$ 100 milhões (R$ 200 milhões) de um resto do financiamento de 2007 de uma linha de US$ 1 bilhão do BID e mais US$ 1 bilhão que entra ainda este ano de um programa de 3 anos do Banco Mundial.

Dos R$ 104,2 bilhões o BNDES espera desembolsar R$ 85 bilhões e os restantes R$ 19,2 bilhões ficam reservados para gastos, entre eles pagamentos de salários, dividendos e dívidas, dentre outros. O que sobrar entra no caixa para 2009.

A grande preocupação de Coutinho é com 2009. Ele acaba de voltar de um périplo pelos EUA e Japão. Nessas visitas já tem negociado R$ 5,6 bilhões. Do Banco Mundial contará com US$ 1 bilhão de uma linha que está em fase de acertos e mais US$ 300 milhões do Japan Bank for Internacional Cooperation (JBIC) e espera captar mais R$ 3 bilhões junto a agências internacionais e organismos multilaterais. O banco conta para o ano que vem obter retorno de empréstimos acima dos R$ 52 bilhões deste ano e uma ajuda maior do FAT e até mesmo do Tesouro, do qual espera o sinal verde para contar com os dividendos do balanço recorde de 2008 para financiar projetos.