Título: Intervenções do BC somam US$ 22,9 bilhões
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 22/10/2008, Finanças, p. C2

As diversas intervenções do Banco Central no mercado de câmbio já somam US$ 22,9 bilhões, segundo dados apresentados ontem pelo presidente da instituição, Henrique Meirelles, em audiência na Câmara dos Deputados. Mas o gasto definitivo das reservas foi de apenas US$ 3,2 bilhões. A maior parte das intervenções ocorreu por meio de operações no mercado futuro e por meio de empréstimos em moeda estrangeira, em que a autoridade monetária vende dólares a agentes privados com compromisso de recompra em uma data futura.

O uso de instrumentos alternativos na suas intervenções tem garantido que as reservas internacionais sejam relativamente preservadas nesta crise. As reservas se encontravam em US$ 201,223 bilhões na última segunda-feira, não muito abaixo dos US$ 207,575 bilhões observados em 15 de setembro, quando a falência do banco Lehman Brothers provocou o agravamento da crise internacional.

Segundo dados apresentados por Meirelles, as vendas diretas de dólares no mercado à vista de câmbio somavam US$ 3,2 bilhões até a segunda-feira. Essas operações são as únicas que representam uma perda definitiva para as reservas internacionais.

O BC também vendeu, com compromisso de recompra, US$ 3,7 bilhões em linhas de crédito para injetar liquidez nos mercados de câmbio. Na segunda-feira, fez um empréstimo de US$ 1,6 bilhões a bancos, com recursos dirigidos ao comércio exterior. No caso desses dois tipos de operação, as reservas sofrem uma redução apenas temporária, voltando a subir quando os bancos revendem os dólares ao BC ou pagam os empréstimos.

O BC também realizou, segundo Meirelles, a venda de US$ 12,9 bilhões em contratos de "swap" cambial. Nessas operações, o BC assume uma posição vendida em dólares. Nelas, não há compra e venda de dólares físicos, mas apenas pagamentos em reais equivalente à variação da cotação do dólar no período.

Meirelles disse que o BC também deixou de rolar US$ 1,6 bilhão em contratos dos chamados "swaps" cambiais reversos, em que a autoridade monetária recebia de agentes privados a valorização do dólar.

Meirelles apresentou os dados em depoimento na Câmara que discutiu os efeitos no Brasil da crise financeira internacional. "O Brasil é um dos bons desempenhos na crise mundial", disse o presidente do BC.

Segundo ele, o Brasil está em uma situação relativamente confortável porque, entre outras coisas, tem uma supervisão bancária mais rigorosa, incluindo bancos de investimentos, que estão fora da atuação de reguladores de países desenvolvidos.

Outro ponto de conforto é o alto nível de capitalização dos bancos brasileiros. O chamado índice de Basiléia, um índice de capitalização dos bancos, estava em 14,9% em junho, acima do limite mínimo de 11% definido para o Brasil e dos 8% estabelecidos em países desenvolvidos.

Meirelles disse que a política de redução do passivo em dólar do governo contribuiu para deixar a economia menos vulnerável à crise. Ele destacou o resgate de títulos cambiais e a venda de "swaps" cambiais reversos, que fizeram com que a dívida interna vinculada ao dólar caísse de US$ 62,3 bilhões para US$ 27,3 bilhões entre maio de 2003 e agosto de 2008; a compra de dólares no mercado, que fizeram as reservas subirem de US$ 15,3 bilhões em abril de 2003 para os atuais US$ 201,223 bilhões; e o pagamento de dívidas externas, o que fez com que esse débito caísse de US$ 138,9 bilhões para US$ 85,6 bilhões entre setembro de 2003 e agosto de 2008.

"Fomos bastante criticados pelos custos fiscais dessa política de compra de dólares", afirmou Meirelles. "Nesse momento fica claro o seu acerto". Também presente no depoimento, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, previu um crescimento entre 4% e 4,5% em 2009, superando expectativas dos analistas de mercado, que esperam uma expansão de apenas 3,35%.