Título: Só as importações garantem oferta de gás natural
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Fonte: Valor Econômico, 22/10/2008, Especial, p. F4

Na década de 90, a geração térmica a gás natural foi eleita a fonte preferencial para a complementação da geração hidráulica na matriz elétrica. Hoje, a situação é diferente. "Não se tem novos projetos porque não haveria gás disponível", afirma o diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires. Nos últimos leilões de energia nova, somente projetos de usinas movidas a Gás Natural Liquefeito (GNL), que será importado pela Petrobras, foram negociados.

"As indústrias que desejam fazer ampliações de suas instalações não encontram gás natural para atendê-las", informa o diretor-presidente da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores Industriais e Consumidores Livres de Energia (Abrace), Ricardo Lima. Ele acrescenta que, como precaução, muitas indústrias adotaram sistemas bicombustíveis, de forma a permitir que atuem com outro combustível em caso de eventual falta ou de elevação de seus preços.

Pires, da CBIE, diz também que a oferta de gás natural não tem sido ampliada na medida das necessidades, mas ressalva que a expectativa é de que o suprimento seja reforçado no curto e médio prazos com a oferta de Gás Natural Liquefeito (GNL).

"Poderemos contar com uma oferta adicional de 27 milhões de metros cúbicos por dia", prevê. Mas, um outro problema é que a malha de dutos para o transporte de gás natural também não tem se expandido no mesmo ritmo. Com esses entraves, a expectativa é de que os preços do gás subam ainda mais.

Segundo Pires, esse situação tem levado ao aumento dos preços do gás. "Hoje o gás natural produzido no Brasil é mais caro que o gás importado da Bolívia", diz ele. De acordo com informações da Petrobras, no segundo trimestre de 2008, o gás natural boliviano foi vendido às companhias distribuidoras ao preço médio de US$ 7,24 por milhão de BTU. O gás nacional alcançou o preço médio de venda de US$ 9,31 por milhão de BTU.

Pires lembra que o quadro atual é conseqüência de uma política de congelamento dos preços adotada entre 2003 e 2005 pela Petrobras. "Isso provocou um boom do consumo", acrescenta Pires. Nesse quadro de escassez de oferta, os maiores prejudicados são os consumidores, que converteram os seus sistemas para o uso do gás natural, e as distribuidoras de gás canalizado, que investiram pesado na expansão das suas malhas.

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, diz que a falta de gás será resolvida também com o aumento da produção de gás das Bacias de Santos, de Campos e do Espírito Santo".

Segundo a diretora de Gás e Energia da Petrobras, Maria das Graças Foster, a oferta média de gás natural ao mercado registrada em setembro foi de 61,2 milhões de metros cúbicos por dia, sendo 30,4 milhões de produção nacional e o restante, da Bolívia.

Maria das Graças argumenta também que "a elevação de preços, necessária para a sustentabilidade do negócio, não reduziu a atratividade e a competitividade do gás natural".

A diretora da Petrobras prevê que, entre 2008 e 2012, a empresa investirá US$ 18,2 na cadeia do gás, o que permitirá a elevação da oferta a 134 milhões de metros cúbicos/dia até 2012. No mesmo período, a Petrobras deve ampliar a malha de transporte que hoje é de 6 mil quilômetros de gasodutos para quase 10 mil quilômetros.

Questionado sobre a atuação da Petrobras na produção e comercialização do gás natural, Tolmasquim ressalta que, apesar das atuais dificuldades, o país caminha para um incremento da competitividade nesse segmento. "A Lei do Gás será importante para isso, porque criará uma situação de competição no que tange aos gasodutos, que, por sua vez, poderá ampliar a competitividade na comercialização".

Sobre essa questão, a diretora de Gás e Energia, Maria das Graças Foster afirma que "ainda que a Petrobras seja, hoje, a detentora da maior parcela do gás natural produzido e importado ao Brasil, o equilíbrio da cadeia está fundamentado no fato de que, em geral, o consumidor de gás natural terá sempre a opção de consumir outras fontes energéticos, desde que lhe seja economicamente viável, o que impõe ao supridor equivalente busca por competitividade". (E.M.)