Título: Bush busca acordo para influenciar eleição nos EUA
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Fonte: Valor Econômico, 23/10/2008, Especial, p. A14

Washington e Bagdá estão rediscutindo o acordo sobre a presença americana no Iraque, num momento em que a intervenção é um dos maiores temas da eleição presidencial dos EUA. As autoridades iraquianas, por seu lado, tentam lucrar politicamente, impondo modificações de última hora sob a alegação de precisar fazer o pacto mais "palatável" possível ao iraquiano médio.

Observadores da cena política americana dizem que os membros do governo George W. Bush envolvidos no acordo querem que ele seja assinado logo, se possível com uma data estipulada para a retirada das tropas. Sendo assim, haveria como usá-lo em favor da candidatura do republicano John McCain.

Os iraquianos discutem sobretudo a imunidade dos soldados americanos, que só podem ser julgados pelos EUA.

O Pentágono insiste em manter sua jurisdição sobre as tropas na maior parte dos países em que atua. Mas, numa concessão aos iraquianos, as autoridades americanas concordaram em permitir que os tribunais do Iraque julguem soldados dos Estados Unidos que tenham cometido crimes sérios quando não estivessem em serviço nem dentro das bases militares.

O acordo regulará o marco legal de atuação das tropas americanas no Iraque quando vencer, no final deste ano, o mandato dado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, advertiu que o Iraque tem de assinar o pacto para autorizar a permanência de bases americanas em seu território até o fim de 2011, ou correrá o risco de sofrer "conseqüências dramáticas".

Segundo a imprensa americana, Gates afirmou que a minuta atual do acordo não deve ser modificada, a não ser que os iraquianos encontrem algum problema "que não tenha sido visto pelos EUA".

"Há grande resistência (por parte dos EUA) de continuar o processo de elaboração do texto", comentou o titular da pasta da Defesa.

Gates afirmou que "há só duas alternativas: o acordo ou um mandato renovado da ONU, e voltar a recorrer às Nações Unidas neste ponto não estipula nenhuma garantia de que haverá uma continuação limpa" das operações militares, em evidente alusão à possibilidade de que a Rússia vete o mandato ou imponha modificações no Conselho de Segurança.

"As conseqüências de não conseguir um acordo são muito reais. Basicamente, deixaríamos de agir (no Iraque)", advertiu Gates.

O general iraquiano Qassim Atta, porta-voz do comando para as operações de segurança em Bagdá, respondeu afirmando que as forças iraquianas eram "capazes de garantir a segurança em todo o país". "As forças de segurança já estão prontas, sobretudo depois de ter aumentado em número de homens e em qualidade. Já controlamos 11 das 18 Províncias iraquianas e em breve controlaremos o resto", declarou o general Atta.

Segundo o porta-voz de Gates, Geoff Morrell, o secretário de Defesa começou a fazer consultas ao Congresso sobre um rascunho de acordo com Bagdá que poderia conter uma data de retirada das tropas americanas.

Gates já iniciou seus contatos com os líderes das comissões parlamentares que tratam das Forças Armadas, com o objetivo de discutir o projeto de acordo, que também circula no Executivo, acrescentou Morrell.

Esse rascunho menciona "datas" para uma retirada das tropas americanas, confirmou Morrell, mas esses objetivos "dependerão das condições no terreno".

No final do mês de agosto, Bagdá dizia que o projeto previa a saída das forças americanas até o final de 2011.

Segundo Morrell, "esse ainda não é um documento final. Esse é um rascunho contendo os termos sobre os quais negociadores iraquianos e americanos chegaram a um acordo, mas que ainda está sujeito ao processo político usual nos dois países".